Amiga de Andrés Sanchez justifica gastos com cartão do Corinthians

A gestão financeira do Corinthians volta a ser alvo de severo escrutínio judicial. Recentemente, Aurea Ramacciotti, figura próxima ao ex-presidente André s Sanchez, manifestou-se sobre a utilização de cartões corporativos do clube para despesas que, segundo o Ministério Público, possuem natureza estritamente pessoal. O caso, que integra uma investigação mais ampla sobre a administração de recursos do Timão, aponta que o patrimônio alvinegro teria financiado itens para terceiros durante o ano de 2020.

Em esclarecimentos prestados ao portal ge, Aurea detalhou sua relação de longa data com o ex-mandatário, ressaltando que a situação teria sido fruto de um equívoco operacional no momento do pagamento. Segundo seu relato, ela se prontificou a auxiliar Sanchez na organização de sua nova residência após o término de sua gestão no Parque São Jorge. A justificativa apresentada foca na semelhança visual entre os cartões pessoais de André s e o cartão de crédito institucional do clube.

? Andrés saiu do bairro Anália Franco quando acabou o mandato dele, e como sou amiga dele há 47 anos e sempre nos ajudamos, me ofereci para alugar e montar o apartamento dele. Faltava TV e máquina de lavar. Eu comprei e paguei com o cartão dele, mas não vi que era cartão do clube. Os dois cartões dele eram pretos, com o nome dele. Ele não viu e eu também não prestei atenção. Só isso ?

Contradições entre depoimento e registros fiscais

Apesar da justificativa de Aurea Ramacciotti focar na aquisição de eletrodomésticos essenciais, as notas fiscais interceptadas pela investigação contam uma história distinta. O Ministério Público identificou que os produtos adquiridos com o capital corinthiano não condizem com a narrativa de compra de uma televisão ou máquina de lavar. Os documentos revelam gastos focados em mobiliário de decoração e acessórios técnicos.

Abaixo, detalhamos a discrepância entre o que foi declarado pela defesa e o que consta nos registros oficiais de compra realizados em agosto de 2020:

Para o Ministério Público, a emissão de notas fiscais em nome de terceiros, pagas com recursos de uma entidade esportiva, configura crimes graves. A promotoria sustenta que houve a prática de apropriação indébita, lavagem de dinheiro e falsidade documental tributária. A divergência entre o suporte de TV adquirido e a TV mencionada no depoimento é um dos pontos que fragilizam a versão do erro involuntário.

Implicações Jurídicas e Pedidos de Ressarcimento

O promotor Cássio Conserino formalizou uma nova denúncia que atinge não apenas André s Sanchez, mas também Roberto Gavioli, ex-gerente financeiro da instituição. A autoridade requer que ambos devolvam, individualmente, a quantia de R$ 101 mil aos cofres do Corinthians . Este montante é apenas uma fração de um imbróglio financeiro muito maior, que abrange mais de 200 movimentações suspeitas distribuídas em 31 faturas entre os anos de 2018 e 2021.

Em uma vertente anterior da mesma investigação, os valores solicitados para reparação são ainda mais expressivos. O Ministério Público pleiteia o ressarcimento de R$ 480 mil por danos materiais, acrescidos de uma indenização por danos morais que eleva o total da causa para aproximadamente R$ 1,1 milhão. É importante notar que as investigações se estenderam até a gestão de Duilio Monteiro Alves, que também foi alvo de denúncia recente por gastos similares.

Posicionamento Oficial da Defesa de Andrés Sanchez

Diante do avanço das acusações e da exposição de novos detalhes sobre o uso do cartão corporativo, o corpo jurídico que representa o ex-presidente mantém uma postura de contestação integral das teses apresentadas pela promotoria. A defesa questiona a forma como os processos estão sendo conduzidos e reafirma a confiança na absolvição de Sanchez perante o Poder Judiciário.

"A defesa de Andrés Navarro Sanchez, representada pelo escritório Fernando José da Costa Advogados, manifesta perplexidade diante da nova denúncia oferecida pelo Ministério Público, especialmente por ter sido distribuída por dependência ao processo relativo à primeira denúncia, atualmente suspenso, e reafirma que demonstrará a inocência de Andrés no regular curso do processo."

O cenário expõe uma fragilidade nos controles internos do Corinthians durante os últimos anos, revelando como o patrimônio do clube foi exposto a riscos administrativos e jurídicos. Enquanto o processo segue seu trâmite legal, a torcida e os sócios aguardam por transparência e pela devida recuperação de valores que deveriam ter sido aplicados exclusivamente em prol da instituição alvinegra.