Impeachment de Augusto Melo: Entenda o Futuro da Presidência do Corinthians

O cenário político do Sport Club Corinthians Paulista passou por uma reviravolta significativa com a oficialização do impeachment de Augusto Melo. A decisão, anunciada pelo presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Júnior, marca o fim de um mandato que mal havia começado e que se viu envolto em controvérsias desde seus primeiros dias. A partir de agora, o clube do Parque São Jorge se volta para um processo de eleição indireta, que definirá os rumos da instituição até o final de 2026.

O Fim de um Mandato Conturbado: Entenda o Impeachment

A destituição de Augusto Melo não foi um evento isolado, mas o ápice de uma série de acusações de irregularidades. O pedido de impeachment baseou-se fundamentalmente em supostas infrações relacionadas ao contrato de patrocínio máster com a casa de apostas VaideBet, além de alegações de desrespeito à Lei Geral do Esporte e ao próprio estatuto do clube.

A gravidade da situação foi escalando nos últimos meses. O agora ex-presidente do Corinthians tornou-se réu após a Justiça acatar a denúncia do Ministério Público de São Paulo. As acusações são severas: associação criminosa, lavagem de dinheiro e furto. Segundo o Ministério Público, "está muito claro os caminhos tortuosos e ilegais que o dinheiro percorreu a partir do momento em que saiu dos cofres corintianos" para o pagamento de comissões pela suposta intermediação do contrato VaideBet.

A denúncia detalha que mais de R$ 1 milhão "passou por empresas manifestamente fantasmas e, tudo indica, recebedoras 'em trânsito' de valores escusos provenientes de estruturas criminosas e de empresas, notadamente, utilizada para as mais diversas formas de lavagem de capitais." A gestão de Augusto Melo, que prometia romper com 16 anos da dinastia do grupo Renovação e Transparência, teve como principal, e praticamente única, conquista esportiva o título paulista deste ano, ofuscado por uma sucessão de polêmicas administrativas.

Foto: (Divulgação)

O Caso VaideBet: A Trama por Trás da Ruptura

O epicentro da controvérsia reside no contrato de patrocínio máster com a VaideBet, assinado em janeiro de 2024, nos primeiros dias da gestão Melo, no valor de R$ 370 milhões por três anos. Meses depois, veio à tona a existência de uma empresa, a Rede Social Media Design, de Alex Cassundé ? que havia atuado na campanha eleitoral de Augusto Melo ?, apontada como intermediária do acordo.

A Rede Social Media Design teria direito a uma comissão de R$ 25 milhões. Desse montante, duas parcelas de R$ 700 mil, totalizando R$ 1,4 milhão, foram repassadas. Esse pagamento gerou uma disputa interna, pois não contou com o aval do então diretor financeiro, Rozallah Santoro. Subsequentemente, descobriu-se que a empresa de Cassundé transferiu o dinheiro para a Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda., uma empresa que, conforme investigação policial, é de fachada. Sua sócia, Edna Oliveira dos Santos, reside em uma área periférica de Peruíbe, e seus dados teriam sido usados para a criação da Neoway, sem que a Polícia encontrasse qualquer vínculo dela com o caso.

A investigação policial, que incluiu a quebra de sigilos bancários, revelou que o dinheiro pago à Neoway trilhou um caminho complexo por diversas empresas até chegar à UJ Football, agência de gestão de carreiras esportivas pertencente a Ulisses Jorge. A UJ Football embolsou R$ 1.074.150,00, valor que, no entendimento da Polícia, foi destinado ao pagamento de despesas da campanha eleitoral do Corinthians . É importante ressaltar que esta empresa teve seu envolvimento com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) denunciado por Antônio Vinícius Lopes Grizbach, empresário assassinado em novembro passado no aeroporto de Guarulhos. Victor Henrique de Oliveira Shimada, sócio da Victory Trading Intermediação, foi outro elo nessa cadeia, com sua empresa supostamente utilizada para dificultar o rastreamento dos valores.

Diante das revelações e do impacto em sua reputação, a VaideBet ativou uma cláusula anticorrupção presente no contrato e rescindiu a parceria ainda em junho do ano passado.

A Sucessão de Poder: O Próximo Capítulo no Parque São Jorge

Com a saída de Augusto Melo, o Corinthians inicia um novo processo eleitoral, que será conduzido de forma indireta pelo Conselho Deliberativo. A votação, no entanto, ainda não tem uma data definida. Durante o período de afastamento de Melo, iniciado em 26 de maio, o vice Osmar Stabile assumiu a presidência interina. Stabile já manifestou, em entrevista no mês passado, seu desejo de concorrer ao cargo.

Nessa eleição indireta, a participação é restrita aos conselheiros vitalícios e trienais, que são os únicos aptos a concorrer e votar. Osmar Stabile permanecerá como presidente interino até que o novo líder seja escolhido. O presidente eleito pelos conselheiros terá um mandato temporário, comandando o Corinthians até o final de 2026, período que corresponderia ao término da gestão de Augusto Melo, eleito em novembro de 2023 e empossado em janeiro de 2024.

O presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Júnior, ainda não estabeleceu a data para a eleição indireta. Ele afirmou que "na próxima semana, vamos dar as datas dos próximos passos. Vamos marcar com a maior brevidade possível. O estatuto não tem uma regra, mas vamos marcar o mais breve possível. Esperamos que essa página virada possa proporcionar uma renovação institucional do Corinthians . É o clube do povo, que tenta acolher a todos." A expectativa é de que o processo seja ágil para garantir a estabilidade do clube.