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Erasmo Damiani e a Reformulação da Base do Corinthians

Por Redação FuTimão em 29/12/2025 11:16

O departamento de formação de atletas do Corinthians atravessa um período de severa reestruturação sob a batuta de Erasmo Damiani. O executivo, que assumiu o cargo em outubro, iniciou sua gestão com um diagnóstico profundo que resultou em cortes drásticos no quadro de funcionários e no elenco das categorias inferiores. A meta é clara: profissionalizar processos e estabelecer um organograma capaz de sustentar o clube até, pelo menos, a temporada de 2026.

Em meio a um cenário de restrições financeiras e pressões externas, Damiani detalhou as medidas impopulares, mas necessárias, que tomou em seus primeiros meses. Entre as ações mais contundentes estão a demissão de 17 profissionais ? alguns com vencimentos muito acima da média do mercado ? e a dispensa de cerca de 50 jovens atletas nas categorias sub-7 ao sub-13. O objetivo, segundo o dirigente, é permitir uma avaliação técnica mais justa e eficiente.

?Quando cheguei, houve um pedido por parte da direção de um diagnóstico do departamento como um todo e readequação financeira. Fiz a avaliação, conversei com os profissionais que aqui estavam e, em duas semanas, apresentei um relatório ao presidente mostrando o que vi e o que achava de deveria ser feito para que o Corinthians andasse com tranquilidade e pudesse desenvolver um trabalho mais adequado.?

O Desafio do Mercado Inflacionado e a Proteção de Ativos

Um dos maiores obstáculos enfrentados pelo Corinthians no momento é a agressividade de clubes com alto poder de investimento, como o Bahia, que recentemente adquiriu Kauê Furquim mediante o pagamento da multa rescisória de R$ 14 milhões. Para evitar novas perdas, a gestão Damiani aposta na inclusão de aditivos contratuais que valorizam o atleta conforme seu progresso até o time profissional, tentando equilibrar a proteção do ativo com a realidade orçamentária do clube.

Abaixo, os novos nomes que assumem postos estratégicos no desenvolvimento técnico do Terrão:

Categoria Profissional Contratado Função
Sub-17 Guilherme Nascimento Treinador
Sub-16 Douglas Pilar Treinador
Sub-14 Kauê Galhardo Treinador

Sobre a concorrência desleal com clubes-empresa e SAFs, Damiani é enfático ao descrever a vulnerabilidade do Parque São Jorge no cenário atual.

?O Corinthians está exposto. O Bahia tem dinheiro de fora. Hoje, no Botafogo consegue colocar dinheiro para fazer contratações, o Flamengo consegue, o Palmeiras consegue, o Cruzeiro consegue, o Red Bull Bragantino consegue. Até o Barra-SC consegue colocar dinheiro que o Corinthians não consegue. Vou te dar um exemplo: o Corinthians quer um jogador do Mirassol, que pede R$ 50 mil. Nós não temos esse dinheiro, mas o Barra-SC tem. Há clubes com grupos grandes por trás, há clubes estruturados e há clubes atrantes. O mercado está agressivo.?

Reformulação Administrativa e Ajuste de Contas

A decisão de enxugar o departamento não foi apenas técnica, mas também financeira. A descoberta de aumentos salariais desproporcionais na gestão anterior forçou a mão do executivo. Damiani justifica que a quantidade excessiva de atletas impedia o desenvolvimento individualizado, algo essencial para um clube que deseja voltar a ser referência nacional em formação.

?Fizemos demissões expressivas, confesso que nunca tinha feito demissões em tamanha quantidade na carreira. Infelizmente, era uma necessidade dentro daquilo que foi apresentado pela gestão de readequação financeira. É um clube gigante, dos clubes que vivi até agora nunca tinha visto nada igual, conhecendo o clube você entende quando falam que o Corinthians é uma religião. Venho ao Parque São Jorge e fico impressionado com o tanto de gente circulando aqui dentro, vivendo o clube 24h/dia. É um desafio gigantesco, mas empolgante?

Quanto à dispensa de jovens promessas das categorias menores, o dirigente mantém a porta aberta, mas reitera a necessidade de foco operacional.

?Quem saiu, pode voltar. Se amanhã ou depois um dos meninos que foram dispensados começar a performar, o Corinthians terá a humildade de reconhecer. A redução era uma necessidade do clube. Pela quantidade de jogadores que tinham aqui, eu não conseguia avaliar o trabalho dos treinadores. Como eu posso cobrar um treinador aqui dentro se ele muitas vezes trabalha com um grupo de 50 jogadores na mesma categoria??

Impactos do Transfer Ban e Impasse com o Palmeiras

Outro ponto crítico é o transfer ban imposto pela Fifa, que impede o registro de novos jogadores para a base. Isso obriga o clube a trabalhar exclusivamente com o material humano já presente no Parque São Jorge ou a promover atletas do futsal para o campo. Além disso, existe o imbróglio diplomático com o Palmeiras referente ao Movimento dos Clubes Formadores (MCF), que limita a participação do Timão em certas competições de base.

?Queremos resolver essa pendência, o Corinthians fica descoberto nas categorias menores por não poder participar de algumas competições. Eu procurei o Palmeiras e eles não aceitaram a nossa proposta. O Corinthians tentou, com o presidente Stabile o clube sempre tentou resolver esse problema. Não houve omissão do Corinthians , a proposta do Palmeiras está um pouco fora da realidade, mas faz parte. Cada um tem a sua interpretação.?

Sobre as limitações de registro, Damiani explica a estratégia para a próxima Copa São Paulo de Futebol Júnior:

?São processos pelos quais o clube está passando. A janela de transferências só abre em janeiro. Na base, quando entra o transfer ban, você não pode contratar jogadores para firmar contrato profissional e nem para vínculo de formação. Para a Copinha, vamos mesclar alguns atletas do sub-20 com os garotos que estavam no sub-17.?

A Copinha e a Gestão de Expectativas

Com a aproximação da principal competição de base do país, o executivo prega cautela e foco na saúde mental dos jovens. Damiani, que já conquistou o torneio por outras agremiações, entende que o peso da camisa do Corinthians transforma cada partida em uma "final de Copa do Mundo" para os adversários.

?O Corinthians sempre tem que chegar para alcançar os objetivos. Dizer que seremos campeões vou ser muito soberbo. Vamos lá? A Copinha é pior do que a Copa do Mundo. Tem o sorteio das chaves, você não sabe com quem vai cruzar, às vezes você só joga onde está chovendo em um campo pesado. Eu, como gestor, venci a Copinha pelo Figueirense (2008) e pelo Internacional (2020). Quando venci pelo Figueirense, nós fomos o sexto melhor terceiro colocado na fase de grupos e por isso fomos ao mata-mata. Quem diria que seríamos campeões? O Corinthians tem que chegar preparado.?

O trabalho de Damiani, portanto, não é de resultados imediatistas, mas de construção de um legado estrutural que permita ao Corinthians competir em alto nível nos próximos anos, independentemente das turbulências políticas ou financeiras.

?Tenho que entender o momento pelo qual o clube está passando. Não sou o MacGyver para transformar o Corinthians em dois ou três meses. É um processo de médio a longo prazo para que o clube possa encontrar seu caminho. Quando o clube entrar no trilho, vai ser difícil segurar. Não vim para apagar incêndio, vim para aplicar o conhecimento que tenho. Não sou salvador da pátria, apenas quero deixar o departamento "redondo" para a direção poder trabalhar?

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