SAFiel no Corinthians: Proposta Bilionária Sob O Olhar Crítico do Compliance

O Sport Club Corinthians Paulista se vê diante de uma proposta ambiciosa que visa transformar seu departamento de futebol em uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF), denominada SAFiel. No entanto, o departamento de compliance do clube do Parque São Jorge já acendeu o sinal de alerta, levantando informações cruciais e apontando questões sensíveis sobre essa possível parceria.

A análise interna conduzida pelo Corinthians classificou diversos aspectos da SAFiel como pontos que "requer esclarecimentos", indicando a necessidade de uma investigação aprofundada antes de qualquer avanço. Tal rigor é esperado de uma instituição que lida com cifras expressivas e a paixão de milhões de torcedores.

Os Pontos Críticos Sob Análise Interna

Entre os elementos que chamaram a atenção do setor de compliance e demandam justificativas claras, destacam-se a recente constituição da empresa, o capital social manifestamente baixo e a participação de um dos sócios, Maurício Chamati. Esses fatores, em conjunto, geram legítimas indagações sobre a solidez e a idoneidade da iniciativa.

A SAFiel, formalmente registrada como Invasão Fiel S/A, foi estabelecida em 18 de julho do corrente ano. A pouca idade da companhia levanta preocupações compreensíveis acerca de sua experiência e histórico no mercado, essenciais para gerir um empreendimento da magnitude do futebol corintiano. Adicionalmente, o capital de abertura da empresa, fixado em meros R$ 3 mil, foi um dos principais motivos de ressalvas, questionando a capacidade de uma entidade com tal base financeira de cumprir a promessa de arrecadar R$ 2 bilhões, conforme divulgado pelos idealizadores.

Outro aspecto que gerou desconforto no compliance corintiano foi a presença de Maurício Chamati entre os sócios da SAFiel. O empresário, no ano anterior, integrou o Comitê Independente de Finanças durante a gestão do ex-presidente Augusto Melo. Essa posição lhe teria concedido acesso a informações confidenciais a respeito das finanças do clube. A análise interna do Corinthians solicitou explicações detalhadas sobre essa situação, ponderando a possibilidade de que Chamati tenha se beneficiado de um acesso privilegiado para formatar a proposta da SAFiel.

Entendendo a Proposta da SAFiel: Estrutura e Promessas

A essência da SAFiel reside na transformação do Corinthians em uma Sociedade Anônima do Futebol, propondo uma cultura empresarial e uma gestão profissional para o departamento de futebol, que seria desvinculado das atividades do clube social. O projeto detalha que todas as propriedades do futebol corintiano ? masculino, feminino e categorias de base ? seriam transferidas para a nova empresa, a Invasão Fiel S/A, apartadas do clube associativo.

Essa nova empresa seria uma holding com ações acessíveis para aquisição no mercado. A estrutura prevê duas categorias de ações: uma destinada exclusivamente a torcedores-investidores, com a condição de serem sócios ou membros do programa Fiel Torcedor, e que teriam direito a voto na administração da SAF; e outra direcionada a investidores institucionais, sem qualquer vínculo com a torcida e sem direito a voto. A intenção é democratizar o acesso às ações para torcedores de diversas faixas de renda, mas com uma salvaguarda importante: nenhum acionista poderia exercer voto com mais de 1,8% do capital social, mesmo que sua participação seja superior, garantindo a distribuição do poder e evitando a concentração excessiva nas mãos de um único investidor.

A projeção financeira da SAFiel é ambiciosa, estimando uma captação de recursos entre R$ 1,6 bilhão e R$ 2,5 bilhões. Estes valores seriam direcionados para uma série de finalidades estratégicas, conforme o quadro abaixo:

É relevante notar que a dívida atual do Corinthians , segundo o último balancete disponível, está na casa dos R$ 2,7 bilhões, o que torna a meta de captação da SAFiel um desafio considerável. O clube associativo, por sua vez, seria beneficiado com royalties mensais provenientes da SAF, além de ser desonerado de suas dívidas, podendo assim focar exclusivamente em suas atividades esportivas e sociais.

A gestão atual do Corinthians , consultada sobre o processo, reiterou que levantar informações detalhadas sobre qualquer potencial parceiro é uma praxe institucional. Tal procedimento sublinha o compromisso do clube com a transparência e a segurança em suas futuras parcerias, especialmente em propostas que podem redefinir o futuro da instituição, como a SAFiel.