SAFiel no Corinthians: Ex-Presidentes Podem Ser Acionistas? Entenda a Proposta de Governança Alvinegra

O cenário de transformação no futebol brasileiro inspira o projeto SAFiel, uma iniciativa que propõe a reestruturação do Corinthians como Sociedade Anônima do Futebol (SAF). No cerne dessa proposta, reside a permissão para que figuras históricas, incluindo ex-presidentes do clube, adquiram participação acionária, desde que respeitem os critérios estabelecidos.

Os idealizadores da SAFiel enfatizam a desvinculação do projeto de qualquer corrente política interna do clube. Dessa forma, nomes como Andrés Sanchez, Duílio Monteiro Alves e Augusto Melo não encontrarão barreiras para se tornarem acionistas, contanto que satisfaçam os requisitos de serem associados e possuam uma ficha cadastral sem impedimentos.

Conforme destacado por Carlos Teixeira, idealizador da SAFiel, em entrevista ao UOL, a inclusão é um pilar fundamental:

Quem quiser apoiar o projeto é bem-vindo. Independente se é da torcida organizada, da política, ex-dirigente, não importa. O que une todos os corintianos é maior do que o que nos separa. O projeto não está aqui para resolver problemas do passado do Corinthians. Isso cabe às pessoas que são responsáveis resolverem. Todos os corintianos poderão comprar ações da SAF. Não cabe a nós julgarmos se o corintiano A pode ou se o B não pode.

Critérios Rigorosos: O Acesso à Governança da SAFiel

Contudo, a inserção de antigos gestores no conselho de administração da SAF é percebida como um desafio considerável. A visão da SAFiel preconiza que os membros do conselho sejam selecionados com base em critérios estritamente objetivos, em detrimento de preferências pessoais, exigindo o cumprimento de uma série de pré-requisitos rigorosos.

Carlos Teixeira reforça a exigência de qualificações elevadas para os cargos diretivos:

O critério para participar de cargos é extremamente alto. Não importa quem seja, se ele estiver dentro dos critérios de qualificação, ele pode. Se não estiver, não pode. Acredito que muita gente que passou pelo Parque São Jorge não vai ter condições de concorrer a cargo por causa desses critérios.

A espinha dorsal da proposta é a garantia de uma "gestão profissional" para o Corinthians . O modelo prevê que o capital acionário do clube seja distribuído entre duas categorias principais de investidores: os próprios torcedores e entidades institucionais, como fundos de investimento.

A administração da SAF abrangerá integralmente as modalidades de futebol do clube ? masculino, feminino e categorias de base. As demais práticas esportivas permanecerão sob a gestão do clube associativo.

Estrutura e Participação: A Visão Democrática da SAFiel

Para os torcedores interessados em investir, a condição primordial é a comprovação de um vínculo com o Corinthians . A aquisição de ações será restrita a associados do Parque São Jorge ou participantes do programa Fiel Torcedor, sem distinção se o indivíduo possui ou não um passado político dentro da instituição.

A estrutura de governança da SAFiel prevê a criação de quatro conselhos distintos: Administrativo, Fiscal, Cultural e de Governança. A particularidade é que todos os seus membros seriam eleitos diretamente pelos torcedores que se tornarem acionistas.

Há um teto estabelecido para a participação individual: nenhum torcedor poderá deter mais de 1,8% do total das ações destinadas a essa categoria. Este mecanismo visa assegurar uma distribuição democrática e pulverizada, onde o poder de voto nos órgãos da SAF será exercido pelos próprios torcedores.

A acessibilidade é um ponto crucial da proposta, como explica Carlos Teixeira:

As ações mais baixas custarão cerca de R$ 200. O pipoqueiro, o faxineiro, o corintiano mais humilde, até aquele que vive à base de Bolsa Família, se ele quiser, ele vai conseguir comprar uma ação do Corinthians e vai poder votar. O ingresso pra muitas partidas hoje custa R$ 200, então nós somos totalmente contra o Corinthians ter um dono e é por isso que a gente está apresentando a SAFiel.

Desafios e o Futuro: A Jornada da SAFiel no Corinthians

O modelo de gestão proposto encontra paralelos com o adotado pelo Bayern de Munique. Nele, um corpo de conselheiros independentes, eleitos pelos acionistas e remunerados, será responsável pela atuação executiva. Concomitantemente, outros conselheiros atuarão como representantes dos torcedores e do Parque São Jorge, embora sem influência direta nas decisões gerenciais.

A transição do Corinthians para uma estrutura de SAF é, por natureza, um percurso extenso e complexo. Internamente, o modelo de gestão proposto enfrenta considerável resistência. Para sua concretização, são indispensáveis aprovações em instâncias como o Conselho Deliberativo e, subsequentemente, a ratificação pelos associados do Parque São Jorge.

O lançamento oficial da iniciativa SAFiel está agendado para o dia 28 de outubro, na cidade de São Paulo. Antecedendo o evento, membros do grupo têm se dedicado a uma série de encontros com a diretoria e representantes de torcidas organizadas do Corinthians , com o objetivo de disseminar e debater a proposta.