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SAFiel Corinthians: Entenda o Conflito entre Projeto de Torcedores e Reforma Estatutária
Por Redação FuTimão em 29/10/2025 05:14
Uma iniciativa audaciosa que propõe a transformação do Sport Club Corinthians Paulista em uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF), com a participação de seus torcedores como acionistas, foi apresentada oficialmente. Batizada de SAFiel, a proposta, no entanto, já encontra um ponto de atrito substancial com o anteprojeto de reforma do estatuto do clube, elaborado sob a liderança de Romeu Tuma Júnior, presidente do Conselho Deliberativo.
A divergência central reside na questão do controle acionário. O texto do projeto de reforma estatutária do Corinthians estabelece que, em uma eventual SAF, o clube associativo deveria reter pelo menos 51% do capital social. Isso significa que o controle majoritário das ações permaneceria nas mãos da instituição tradicional.
Essa prerrogativa de controle é vista com ressalvas pelos idealizadores da SAFiel. Durante o evento de lançamento da proposta, um dos fundadores, Carlos Teixeira, expressou preocupação de que essa condição possa afastar potenciais investidores e diminuir a adesão ao projeto, enviando um sinal inadequado ao mercado.
O Dilema do Controle: Por Que o Mercado Torce o Nariz?
A visão dos proponentes da SAFiel é clara: a manutenção do controle pelo clube associativo, que historicamente enfrentou desafios de gestão, pode ser um obstáculo intransponível. Carlos Teixeira foi enfático ao abordar o tema:
"A gente entende que se o clube associativo quiser deter a maioria das ações, ele manda ao mercado uma mensagem que quer continuar no comando. O clube associativo infelizmente foi responsável pela situação chegar aonde chegou. Dificilmente um investidor entraria nesse cenário, afinal não haveria uma mudança do eixo de controle da gestão."
Questionado sobre se o anteprojeto estatutário poderia inviabilizar a SAFiel, Teixeira respondeu afirmativamente. A percepção é que, sem uma alteração significativa na estrutura de poder e decisão, o modelo proposto perde sua atratividade para o capital externo.
Contudo, nem todos os idealizadores da SAFiel compartilham da mesma visão de intransponibilidade. Eduardo Salusse, outro nome à frente da iniciativa, adota uma postura mais flexível, sugerindo que ajustes estatutários são possíveis diante de um propósito maior.
Adaptação Legal: Há Caminho Para a SAFiel no Parque São Jorge?
Salusse, apesar de reconhecer as deficiências do documento atual do clube, acredita que a "vontade política" pode superar as barreiras burocráticas. "O estatuto do Corinthians é ruim, antigo, contraditório e cheio de lacunas. Eu sou de uma geração em que vale mais o olho no olho do que o que está no estatuto. Se tiver vontade, pouco importa o estatuto. O Cruzeiro tinha uma restrição similar à do Corinthians e se alterou na mesma assembleia em que se aprovou a SAF", ponderou o advogado, indicando que precedentes existem.
Do lado da administração do clube, Romeu Tuma Júnior revelou que os idealizadores da SAFiel chegaram a se encontrar com ele na sede social. Entretanto, a proposta formal não foi protocolada junto à Comissão de Reforma do Estatuto. Os líderes do projeto da SAFiel, por sua vez, alegam ter encontrado dificuldades para avançar com a ideia nos bastidores do Parque São Jorge, optando por encaminhar a proposta via e-mail ao presidente Osmar Stabile.
É importante destacar que o Artigo 45 do projeto de reforma do estatuto do Corinthians já contempla a possibilidade de transformação do clube em SAF. Apesar de o texto específico não ter sido detalhado publicamente neste momento, a previsão legal para tal transição já existe no documento em discussão.
O Modelo Financeiro da SAFiel: Engajamento e Transparência
A SAFiel delineou um plano robusto para a captação de recursos, visando arrecadar R$ 2,5 bilhões. Este montante seria destinado à quitação de dívidas, investimentos no futebol e na sede social do Corinthians . Os idealizadores afirmam que a estrutura foi concebida com base em estudos aprofundados, com a expectativa de que as ações se valorizem ao longo do tempo.
Para o aporte financeiro, a proposta prevê três modalidades de acionistas. Uma "reserva popular" permitiria que cada torcedor adquirisse no máximo dez ações, democratizando o acesso. Um segmento de "varejo amplo" seria direcionado a corintianos com maior poder aquisitivo. Por fim, um terceiro grupo seria reservado a investidores profissionais, buscando atrair capital de maior porte.
A aquisição das ações não seria indiscriminada. O interessado deverá comprovar sua associação ao Parque São Jorge ou a inscrição no programa Fiel Torcedor, garantindo o vínculo com o clube. Adicionalmente, para evitar a concentração de poder, nenhuma pessoa poderá adquirir mais de 1,8% do total das ações, com outras travas de segurança ainda a serem detalhadas. A comprovação da origem dos recursos também será uma exigência para qualquer investidor.
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