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Público do Corinthians Cai: Biometria e Ingressos Explicam a Redução na Arena
Por Redação FuTimão em 05/08/2025 04:14
O Sport Club Corinthians Paulista vive uma situação peculiar. Enquanto celebra conquistas importantes como a redução do mercado paralelo de ingressos e a maior disponibilidade de entradas para seus torcedores em confrontos recentes, o clube lida com uma preocupante diminuição da presença de público em seu estádio, a Neo Química Arena.
A "voz da torcida" expressa uma sensação de alívio com a diminuição do cambismo, mas a preocupação com os assentos vazios se intensifica. Após a realização da Copa do Mundo de Clubes, as três partidas do Campeonato Brasileiro disputadas em casa ? contra Bragantino, Cruzeiro e Fortaleza ? registraram os menores índices de público da temporada, todos abaixo da marca de 40 mil pagantes.
O Enigma da Neo Química Arena: Público em Declínio
Para desvendar os motivos por trás desse fenômeno e formular estratégias de reversão, a diretoria do clube promoveu um encontro entre especialistas de diversas áreas, incluindo tecnologia, marketing e comunicação. A análise preliminar aponta que a principal razão para a redução do número de espectadores nos jogos está ligada a duas significativas alterações implementadas: a introdução do sistema de reconhecimento facial no acesso à arena e um controle mais rigoroso na distribuição de bilhetes, iniciado após o afastamento do presidente interino Augusto Melo.
Para ilustrar a diminuição, observe os dados de público e arrecadação dos jogos do Corinthians no Brasileirão após a pausa para o torneio mundial de clubes:
Adversário | Data | Horário | Competição | Público Pagante | Arrecadação Bruta (R$) |
---|---|---|---|---|---|
RB Bragantino | 13/07/2025 (sábado) | 19:00 | Brasileirão | 33.847 | 2.356.795,30 |
Cruzeiro | 23/07/2025 (quarta-feira) | 19:30 | Brasileirão | 31.232 | 2.289.651,40 |
Palmeiras | 30/07/2025 (quarta-feira) | 21:30 | Copa do Brasil | 45.527 | 3.369.505,50 |
Fortaleza | 03/08/2025 (domingo) | 16:00 | Brasileirão | 34.581 | 2.390.031,80 |
Fonte: Borderôs - CBF
Biometria: O Fim da Transferência de Ingressos
Com a obrigatoriedade do reconhecimento facial a partir de julho, uma mudança fundamental ocorreu: a impossibilidade de os torcedores transferirem a titularidade de seus ingressos, com a única exceção sendo os proprietários de cadeiras cativas. Esta medida encerrou uma prática comum entre os sócios do Corinthians : a aquisição de bilhetes com o propósito exclusivo de acumular pontos no programa Fiel Torcedor, mesmo sem a intenção de comparecer ao jogo.
Existiam relatos de torcedores que utilizavam essa estratégia de forma recorrente, visando garantir uma posição privilegiada no ranking do Fiel Torcedor e, assim, obter prioridade na compra de entradas para confrontos de maior relevância. Esses ingressos, adquiridos com o desconto de sócio-torcedor, eram subsequentemente revendidos a terceiros, incluindo cambistas. Aqueles que se beneficiavam desse arranjo agora são obrigados a comprar suas entradas diretamente na plataforma oficial de vendas e pelo valor integral.
Marcelo Munhoes, diretor de tecnologia do Corinthians e um dos principais responsáveis pela implementação do sistema de reconhecimento facial, comenta sobre a nova realidade: ?Essas pessoas que compravam o ingresso somente para pontuar no Fiel Torcedor já tinham para quem passar. E a pessoa que recebia já tinha a rotina, a facilidade. Com isso, as entradas quase sempre se esgotavam entre os sócios-torcedores. Agora, mesmo quem tem pontuação baixa está conseguindo comprar. Por isso, hoje vale a pena contratar o Fiel Torcedor. O que a pessoa economiza em um ingresso já vale mais do que uma mensalidade.?
Desde que a biometria se tornou mandatória, o clube registrou um acréscimo de aproximadamente 17 mil novos membros no programa Fiel Torcedor. Apesar do curto prazo para a implantação e os testes do novo sistema, o Corinthians celebra a baixa taxa de falhas no reconhecimento facial, com apenas 62 ocorrências no jogo contra o Fortaleza, representando 0,2% do total de ingressos comercializados.
Rigor na Distribuição: Menos Cortesia, Mais Transparência
A direção alvinegra também avalia que a diminuição do público se deve a uma maior severidade na alocação de ingressos. Pelos cálculos do clube, mais de mil entradas de cortesia, que eram distribuídas gratuitamente, foram cortadas. Além disso, segundo Marcelo Munhoes, durante a gestão de Augusto Melo, quase 4 mil ingressos eram comercializados com valores promocionais, o que agora foi restringido.
Para fundamentar essa tese, o diretor de tecnologia compara o clássico contra o Palmeiras da semana passada com o de novembro do ano anterior. Embora os dois jogos tenham registrado públicos semelhantes, houve uma diferença de quase R$ 1 milhão na arrecadação. Munhoes aponta que, no Dérbi de 2024, foram concedidas 1040 cortesias a mais.
Comparativo de Público e Renda nos Dérbis | 2024 | 2025 |
---|---|---|
Público pagante | 46.085 | 45.527 |
Renda | R$ 2.514.796,00 | R$ 3.369.505,50 |
Gratuidades | 3455 | 2415 |
?Essas cortesias eram dadas sem controle, os critérios eram definidos pela diretoria anterior sem transparência. E o setor onde isso mais acontecia, o Oeste, é justamente o que teve maior queda de público?, comenta Munhoes. Adicionalmente às cortesias, o diretor afirma que houve uma redução nas entradas destinadas a contas internas do clube. Conforme reportagem de março, esses "logins" eram suspeitos de abastecerem cambistas. A nova administração corintiana também declara ter bloqueado camarotes e cadeiras cativas que não haviam sido vendidos e estavam sendo utilizados sem custo. ?Com essas medidas, aumentamos de 70% para 80% o volume de ingressos vendidos na plataforma do Fiel Torcedor?, declara Marcelo Munhoes.
O Combate ao Cambismo e os Desafios Futuros
Embora o reconhecimento facial tenha praticamente inviabilizado a atuação dos cambistas tradicionais, ainda há indivíduos comercializando ingressos de forma ilícita na internet. O Corinthians identificou o modus operandi desses criminosos: eles geram um número de CPF aleatório, sem registro no programa Fiel Torcedor, e solicitam que o comprador do ingresso cadastre sua face com esses dados falsos. ?Quem faz isso é aquele torcedor que está mal informado e acaba recorrendo ao cambista por achar que é um caminho mais fácil. Eu fiquei sabendo de um caso de torcedor que pagou R$ 170 reais num ingresso de arquibancada, sendo que ele poderia comprar direto no sistema?, relata Munhoes.
Até o momento, cerca de 280 mil torcedores já realizaram o cadastro de suas faces no sistema do clube. Como estratégia para impulsionar a presença de público na Neo Química Arena, o Corinthians considera estender o período de comercialização dos ingressos e também ampliar os descontos oferecidos aos sócios-torcedores. O próximo compromisso da equipe em Itaquera será contra o Bahia, no dia 16, pelo Campeonato Brasileiro.
A Visão da Antiga Gestão: Augusto Melo se Manifesta
O ex-presidente interino do Corinthians , Augusto Melo, também se pronunciou sobre a questão da queda de público e as medidas implementadas:
"A gestão do presidente Augusto Melo assinou contrato com a maior empresa de reconhecimento facial do Brasil, a gestão interina fez questão de não auxilia-los nas instalações das máquinas para os testes para poder fechar com a empresa que está lá. Durante a gestão, haviam contratos comerciais que exigiam ingressos, e por isso algumas reservas eram realizadas e quando não havia confirmação da utilização, esses ingressos retornavam ao sistema para as vendas no Fiel Torcedor. Não haviam facilidades e nem haviam privilégios, como estão querendo justificar para a queda do público. Todo novo sistema é natural que tenha uma diminuição, ainda mais quando não estão cuidando para que os torcedores que não tem habilidade com a tecnologia, como alguns idosos, consigam fazer seus cadastros. Outro fator importante é que as vendas não estão sendo mantidas até a hora da partida, inclusive dificultando parceiros de negócios para que tenham tranquilidade em reservar seus ingressos, como por exemplo, os camarotes. É muito fácil jogar para cima da gestão do Augusto, quando não se tem publicamente todas as comprovações. E que fique bem claro, não houve um dia em que o presidente Augusto não trabalhasse para a inclusão do sistema de reconhecimento facial, tanto que com todas as negativas e narrativas criadas, fechou contrato com uma empresa que foi escanteada para beneficiar outra."
A discussão sobre a queda de público na Neo Química Arena revela a complexidade da gestão de um estádio de grande porte e a busca constante por um equilíbrio entre segurança, controle e a paixão da torcida.
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