Dorival Júnior no Corinthians: Gestão, Base e Blindagem Política

No cerne da filosofia de Dorival Júnior no comando técnico do Corinthians, reside uma inequívoca dedicação ao aproveitamento e lapidação dos talentos oriundos das categorias de base. Essa abordagem, que se traduz em oportunidades concretas no time principal, é vista pelo treinador como um pilar fundamental para a construção de um elenco robusto e com identidade.

A Lapidação dos Talentos da Base

Em um recente embate fora de casa, a performance do jovem Breno Bidon, autor de um gol decisivo para igualar o marcador contra o Grêmio, serviu como um testemunho eloquente dessa aposta. Além dele, a concessão de tempo de jogo a Kayke e Dieguinho nos momentos derradeiros daquela partida reforça a intenção do comandante de integrar progressivamente esses promissores atletas.

A visão do treinador para com os jovens é de um processo contínuo e integrado. Conforme explicitou o próprio Dorival, a transição da formação para o elenco principal exige uma abordagem cuidadosa e estratégica:

"Precisa ter uma integração um pouco. Dar sequência à preparação que foi feita nas categorias de base, valorizando, oportunizando, desde que nos mostrem condições de poderem estar ali. É um trabalho que encontra resultados. Sempre gostei muito de usar garotos da base, porque já vêm com uma identificação muito grande com o clube."

A evolução de um atleta da base, segundo o técnico, é um fenômeno orgânico, não instantâneo. A maturação demanda tempo e experiência, um ponto que Dorival sublinha ao analisar o progresso de Bidon:

"Ele ( Breno Bidon) vem em uma evolução, e é natural isso. Não é como plugar e acender uma luz. Isso acontece com naturalidade. Eu sempre acreditei que um jogador leva entre 80 e 120 jogos para se estabilizar dentro de um clube. Naturalmente, alguns profissionais não precisam, mas a grande maioria leva esse processo. Bidon talvez não tenha a metade desses jogos."

Essa perspectiva pragmática reitera a necessidade de paciência e investimento contínuo nas joias do clube.

A Recuperação de Atletas Consagrados

Paralelamente ao desenvolvimento dos jovens, o estrategista corintiano dedica-se igualmente à reabilitação técnica de atletas mais rodados. O caso de Maycon é emblemático; embora tenha atuado com a braçadeira de capitão, o meio-campista ainda busca reencontrar a plenitude de sua forma, distante das performances que o consagraram em períodos anteriores.

Apesar das evidentes dificuldades impostas por um histórico recente de lesões, Dorival mantém sua confiança no potencial de Maycon . O técnico enfatiza o valor do jogador, cujas qualidades já foram amplamente reconhecidas por diversos antecessores no comando técnico:

"Ele está vindo de uma lesão. Eu sei que talvez não esteja nas melhores condições, mas é um jogador que, pelo menos com a grande maioria dos treinador que eu vi passar pelo clube, foi muito bem aproveitado. Acredito muito, vejo qualidades nele. Ele ainda pode evoluir e melhor, ele sabe disso. Estamos trabalhando para isso."

Essa abordagem demonstra um compromisso com a recuperação integral do elenco , equilibrando a inovação da base com a experiência dos veteranos.

Desempenho em Campo e a Postura Política

A equipe alvinegra, após um período de dez dias sem compromissos oficiais que sucedeu uma semana marcada por efervescência política nos bastidores e uma atuação insatisfatória no empate sem gols contra o Vitória, apresentou uma melhora perceptível na última quinta-feira, embora o resultado final tenha sido um novo empate, por 1 a 1, desta vez diante do Grêmio. Dorival Júnior expressou satisfação com o desempenho exibido em campo, interpretando-o como um sinal de que as perturbações internas do Parque São Jorge não teriam impactado de forma avassaladora o ambiente dos atletas. Contudo, essa percepção contrasta com a declaração de Rodrigo Garro, que, há cerca de duas semanas, havia afirmado a inevitabilidade de se sentir afetado por tais circunstâncias. O próprio treinador, aliás, já vivenciou cenários de instabilidade administrativa em sua carreira, notadamente durante sua passagem pela seleção brasileira, quando a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) atravessava um de seus episódios de maior desorganização institucional.

Questionado sobre o cenário político que envolve o clube, Dorival adotou uma postura de distanciamento estratégico, ressaltando a complexidade de emitir juízos sem pleno conhecimento dos fatos. Sua experiência prévia em contextos de alta turbulência, como na CBF, parece ter moldado sua abordagem. O treinador enfatizou que sua prioridade máxima e inegociável é o foco exclusivo no futebol, blindando o elenco das intempéries externas:

"É difícil avaliar sem conhecer detalhes de tudo que está acontecendo. Prefiro não me envolver politicamente. Vivi isso, sim, há pouco tempo dentro da CBF, mas procuro não estar dentro de um problema deste tipo, porque não compete a nós que temos o dia a dia do clube nas mãos. Nossa preocupação tem de ser principalmente preparar a melhor equipe possível."

Essa declaração reitera uma filosofia de gestão que busca isolar o ambiente esportivo das flutuações administrativas, concentrando-se puramente na performance dentro das quatro linhas, um pragmatismo que, em meio a cenários desafiadores, pode ser a chave para a estabilidade do Corinthians .