Dívidas do Corinthians: Melo se Esquiva, Clube Aflito com Transfer Bans

O Sport Club Corinthians Paulista atravessa um período de intensa pressão financeira, com um acúmulo de débitos que ameaça a capacidade do clube de registrar novos atletas. A recente condenação referente à aquisição do meia José Martínez, que impõe ao Timão o pagamento de uma quantia significativa ao Philadelphia Union, é apenas um dos vários exemplos que expõem a fragilidade econômica da instituição. Este cenário ressalta a urgência de uma gestão financeira mais robusta e transparente.

A dívida com o clube norte-americano, que totaliza US$ 1,5 milhão (aproximadamente R$ 8 milhões na cotação atual), decorre do não pagamento da primeira das três parcelas acordadas para a transferência de Martínez , ainda em dezembro de 2023. O Corinthians , acionado junto à FIFA, buscou refúgio na Corte Arbitral do Esporte (CAS), onde o recurso ainda aguarda deliberação. Este episódio se soma a outras quatro situações que já resultaram ou podem culminar em restrições de registro de atletas, os temidos "transfer bans".

Diante da escalada das revelações sobre as obrigações financeiras pendentes, o ex-presidente Augusto Melo veio a público para se desvincular das atuais responsabilidades, transferindo o ônus para a gestão que o sucedeu. Sua manifestação, divulgada nas redes sociais, sublinha um claro distanciamento das dívidas geradas pelas aquisições de jogadores durante seu mandato.

A Resposta Incisiva do Ex-Presidente: "Não é Mais Problema Meu"

Em uma declaração contundente, Melo afirmou:

"Não é mais problema meu. A partir do segundo semestre do ano passado, para todos os jogadores comprados, tivemos autorização dos departamentos financeiro e jurídico, da comissão técnica e do executivo de futebol, com a minha autorização. Todos os atletas foram comprados primeiro com autorização do departamento financeiro. Eles nos estipulavam a data e quando poderia ser pago. Nos tiraram do poder para poder assumir o Corinthians. É um problema deles daqui para a frente. Receitas, eu deixei bastante."

Essa fala evidencia a estratégia do ex-dirigente de argumentar que as aquisições foram realizadas com o aval de diversas esferas do clube e que os recursos para honrar tais compromissos estavam previstos.

O ex-presidente reforçou sua posição ao mencionar que, durante sua gestão, arcou com diversas pendências, incluindo direitos de imagem e sanções de transfer ban, evitando que o clube atingisse um ponto crítico. Ele enfatizou a complexidade da situação financeira herdada e a necessidade de priorizar pagamentos.

"No ano passado, arquei com um monte de situações. Paguei direito de imagem e transfer bans também, não deixei chegar a esse ponto. E era a mesma situação, sem dinheiro, com caixa complicado, cada dia chegam vários boletos para serem pagos. Temos de pagar um ou outro, que é mais difícil, e outros vamos programando. Isso não é problema meu. É problema deles. Parem de ficar jogando nas minhas costas. Já não estou mais lá. Receita eu deixei bastante. Agora, porque não está sendo pago, é um problema deles. Tem que cobrar quem está lá e por que não está sendo pago, manchando a imagem do Corinthians."

Melo reiterou que sua administração conseguiu estabilizar o clube financeiramente, mantendo salários em dia e quitando algumas dívidas, além de ter deixado um planejamento robusto para os pagamentos dos atletas recém-contratados.

"No ano passado, com um monte de dificuldades, eu consegui ainda colocar o Corinthians nos trilhos, com salários em dia, com algumas dívidas sendo pagas e deixei grandes receitas em um planejamento para serem pagos destes atletas que compramos, com autorização do departamento financeiro. Parem de jogar tudo nas minhas costas. Vocês estão no poder, é um problema de vocês. Paguem esses atletas, porque receita nós deixamos."

Sua argumentação busca desviar qualquer acusação de má gestão financeira durante seu período no cargo.

O Contexto da Destituição e as Dívidas Atuais do Corinthians

A gestão de Augusto Melo, iniciada com sua eleição no final de 2023, teve um desfecho abrupto. Ele foi afastado pelo Conselho Deliberativo em 26 de maio e, posteriormente, destituído em definitivo em 9 de agosto, por meio de um processo de impeachment. As acusações que fundamentaram sua saída incluíram supostas ilegalidades no contrato de patrocínio com a casa de apostas VaideBet, infrações à Lei Geral do Esporte e desrespeito ao estatuto do clube. Melo, por sua vez, nega veementemente qualquer irregularidade.

A postagem de Augusto Melo nas redes sociais reflete a mesma tônica de sua entrevista, onde ele se defende das imputações:

"Mais uma vez estão querendo colocar na minha conta um problema que não é meu! Todo planejamento pra pagar os atletas que eu e minha diretoria da época contratamos, estava nas mãos deles. Todo departamento financeiro estava ciente de tudo e só seguíamos com as contratações com anuência do responsável. Agora quem fez tanta questão de estar no comando, que faça o que tem que fazer e pague. Receita entrou, pra onde foi? Planejamento tinha, cadê? Eu paguei tudo que podia enquanto estive lá e não ia na imprensa reclamar, então que façam igual! Paguem e resolvam! Eu não tenho mais nada a ver com isso. O comando mudou no final de maio, o que fizeram com os problemas desde então? Acho que a torcida precisa de uma explicação, não que se fique jogando pros outros algo que já deviam ter feito."

Essa mensagem pública intensifica o debate sobre a responsabilidade pela atual situação financeira do Alvinegro.

O Cenário de Débitos Internacionais e Suas Consequências

O volume de dívidas internacionais do Corinthians representa um desafio significativo para a atual administração. Além do caso Martínez , o clube enfrenta outras pendências que podem comprometer sua capacidade de reforçar o elenco e, por extensão, sua competitividade em campo. A imagem do clube também é impactada negativamente por esses litígios constantes.

A complexidade da teia de dívidas e a disputa de responsabilidades entre as gestões evidenciam um momento delicado para o Corinthians . A torcida, mais do que nunca, espera por clareza e soluções efetivas que garantam a estabilidade e o futuro do clube. A resolução dessas pendências será crucial para que o Timão possa focar em seus objetivos esportivos sem o fantasma das punições da FIFA.