Dérbi Vencido: Raniele, Martínez e a Virada do Corinthians no Clássico

No recente embate que culminou na vitória corintiana por 2 a 0 sobre o Palmeiras, no Allianz Parque, um dos momentos mais comentados transcendeu a esfera puramente futebolística. O volante Raniele, peça fundamental no esquema tático alvinegro, proporcionou um instante de notória irreverência ao celebrar o gol inaugural, anotado por Bidu aos 42 minutos do primeiro tempo.

A cena, que rapidamente viralizou, envolveu um artefato inusitado: um isqueiro. Ao perceber o objeto atirado no gramado, Raniele o recolheu e, com um gesto provocativo, acendeu-o. Tal atitude gerou imediata reação do lateral Marcos Rocha, desencadeando um breve tumulto entre os jogadores de ambas as equipes, adicionando um tempero extra à já acalorada atmosfera do clássico.

A postura do meio-campista, embora vista por alguns como uma simples demonstração de bom humor, carrega consigo a essência da "catimba" inerente a grandes confrontos, onde o aspecto psicológico desempenha um papel tão crucial quanto a técnica individual. É um elemento que, muitas vezes, define o ritmo e a intensidade de um clássico.

A Comemoração Inusitada de Raniele: Estratégia ou Impulso?

Questionado sobre o episódio após o apito final, Raniele revelou que a ação não foi inédita em sua carreira, mas que a grandiosidade do Dérbi e a profusão de câmeras contribuíram para sua repercussão desta vez. Ele explicou a repetição do gesto:

? No ano passado, quando a gente foi jogar contra o Grêmio, na última rodada do Brasileiro, a gente fez 2 a 0, jogaram um isqueiro e eu fiz a mesma coisa, só que na vez não repercutiu. Hoje, por ter muita câmera, por ser um jogo dessa magnitude, pegaram ali a cena. Mas é algo que eu já fiz uma vez e hoje se repetiu. Jogaram isqueiro, acendi o isqueiro e apaguei o fogo.

Com um toque de ironia, o atleta ainda brincou com a cor do objeto, que remetia ao rival. "Infelizmente o isqueiro era verde, mas acontece (risos). Eu já tinha feito isso, mas no momento ali meio que improvisei mesmo", declarou o volante, reforçando o caráter espontâneo, mas com um fundo de provocação calculada, de sua atitude no clássico.

José Martínez: O Mestre da Provocação no Campo

Ainda na esteira da análise sobre a intensidade do confronto, Raniele fez questão de ressaltar a influência de outro jogador crucial no aspecto psicológico da partida: o venezuelano José Martínez. A capacidade do companheiro de irritar os adversários foi evidenciada precocemente no Dérbi, quando Aníbal Moreno, incomodado pelas provocações, desferiu uma cabeçada no corintiano e foi expulso aos 14 minutos do primeiro tempo.

A descrição de Raniele sobre Martínez revela um perfil de jogador que domina a arte da provocação e da desestabilização emocional dos rivais. Ele enfatizou a natureza incisiva do venezuelano:

? Eu já falei com ele que se a gente jogasse contra eu acho que a gente ia sair na porrada. Porque ele é muito chato, ele é muito chato. Ele desarma os caras e fica olhando pros caras. Vocês sabem, tem vários e vários vídeos dele provocando os caras. É a maneira dele jogar. Tem trazido bons frutos pra nós. Contra o Santos, ele conseguiu expulsar o Escobar dessa maneira. Hoje conseguiu irritar bastante os caras. Teve outra expulsão hoje do Aníbal. É um cara que é muito importante para nós.

A habilidade de Martínez em provocar e, consequentemente, em extrair faltas ou expulsões, não é novidade. O próprio Raniele mencionou um episódio semelhante contra o Santos, onde o venezuelano teria contribuído para a expulsão de Escobar. Tais ações, embora controversas, demonstram um lado estratégico que o Corinthians tem explorado com sucesso, transformando a "malandragem" em um diferencial competitivo.

A Sinergia do Meio-Campo: Raniele e Martínez

Além da dimensão provocativa, Raniele sublinhou a relevância de Martínez sob uma perspectiva tática e de engajamento do grupo. Para Raniele , a presença de um jogador com as características de Martínez é essencial para o equilíbrio do meio-campo e para a elevação do nível de energia de toda a equipe:

? Para mim, pelo meu estilo de jogo, eu preciso desse cara ali no meio campo também para poder trazer comigo os outros companheiros. Eu acho que quando um cara de mais qualidade, por exemplo, como o Carrillo, como o Garro, vê a gente com energia alta, desarmando, vibrando, e eles veem a gente dessa maneira, eu acho que trazemos eles com a gente. Isso é muito importante. O Martinez é um cara que eu me dou muito bem e a gente consegue trabalhar muito bem junto.

Essa interconexão entre os atletas, onde a vibração e a entrega de uns contagiam os outros, é um fator intangível, mas de grande impacto. A parceria entre Raniele e Martínez , portanto, transcende a simples soma de talentos individuais, formando um setor de contenção robusto e capaz de ditar o ritmo da equipe em momentos decisivos, influenciando positivamente até mesmo jogadores de características mais técnicas como Carrillo e Garro .

A Vitória Estratégica e o Respiro para o Timão

A significância da recente vitória corintiana sobre o Palmeiras vai muito além da simples classificação para as quartas de final da Copa do Brasil. O resultado conferiu um indispensável alívio ao ambiente interno da equipe, que vinha enfrentando um período de instabilidade. Raniele fez questão de enfatizar a consciência do elenco sobre o peso do confronto, especialmente no que tange à situação do treinador Dorival Júnior.

? A gente sabe que a gente vem num momento delicado e, no Brasil, infelizmente jogos desse tamanho falam muito sobre o que que vai ser para o nosso treinador, para a nossa equipe. E a gente sabe que se a gente fosse desclassificado pelo Palmeiras hoje se instalaria uma crise enorme no Corinthians . Então a gente precisava disso, a gente precisava dar esse suporte para o Dorival também, que é um cara que tem ajudado muito a gente.

A equipe, segundo o volante, compreendeu a necessidade de uma performance enérgica e focada, aprendendo com experiências passadas, como a derrota na Arena Barueri, onde a intensidade não foi a mesma. Este triunfo, portanto, não é apenas um avanço em uma competição, mas um marco na busca por estabilidade e confiança, demonstrando que a vibração e a atitude em campo são elementos cruciais para o sucesso do Corinthians , que agora se prepara para o próximo desafio pelo Brasileirão, fora de casa, contra o Juventude.