Corinthians x Palmeiras: Ineditismo na Copa do Brasil e a Profunda História do Dérbi

É uma surpresa que, mesmo após mais de um século de encontros, o clássico entre Corinthians e Palmeiras ainda consiga apresentar fatos inéditos em seu vasto retrospecto. No entanto, a noite desta quarta-feira, às 21h30, na Neo Química Arena, marca um momento singular: a Copa do Brasil passa a fazer parte da extensa lista de competições que já abrigaram o Dérbi.

Pela primeira vez, os gigantes paulistas se enfrentam neste torneio, em duelos de ida e volta válidos pelas oitavas de final. Este novo embate se soma a uma impressionante coleção de 39 denominações distintas, que incluem desde campeonatos oficiais até amistosos, alguns deles em confrontos únicos que renderam taças com os nomes mais inusitados.

A história desses confrontos é recheada de peculiaridades. A Taça Centenário de Barretos, por exemplo, disputada em 1954, representou a primeira vez que Palmeiras e Corinthians se enfrentaram fora da cidade de São Paulo. O jogo, que celebrou o aniversário da cidade a 421km da capital, terminou com vitória palmeirense por 1 a 0, com gol de Rodrigues Tatu no segundo tempo.

A Inédita Batalha na Copa do Brasil

Outra curiosidade reside na Taça Maria Quitéria, um torneio amistoso realizado em Salvador, que preenchia a lacuna entre o Campeonato Estadual e o Nacional ? um cenário que contrasta drasticamente com a realidade atual, onde o técnico Abel Ferreira frequentemente expressa suas críticas ao calendário futebolístico sobrecarregado.

Ainda mais exótica foi a Taça Cântara Portugália, de 1922, uma homenagem aos aviadores portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral, que haviam cruzado o Oceano Atlântico em um hidroavião. Naquela ocasião, o Corinthians levou a melhor. Pedro Moreno, ao analisar o cenário atual, ponderou:

"Se não fosse um Derby, eu apontaria o Palmeiras como favorito"

Com a virada do milênio, a maioria dos duelos passou a se concentrar nos Campeonatos Paulista e Brasileiro, este último em três formatos distintos: a "Copa João Havelange", o Brasileirão contemporâneo e o antigo Roberto Gomes Pedrosa, disputado entre 1967 e 1970. Além disso, seis embates ocorreram pela Copa Libertadores. Agora, a Copa do Brasil adiciona uma dose de ineditismo a essa rivalidade secular.

Considerando apenas campeonatos regulares, excluindo taças e torneios amistosos, o Dérbi já protagonizou 33 confrontos eliminatórios ou decisivos. Nesses embates, o Palmeiras obteve vantagem em 17 ocasiões, enquanto o Corinthians triunfou em 15, além de um empate que definiu o título em outro critério.

Foto: (Divulgação)

A Contagem Disputada: Por Que os Números Divergem?

Uma das particularidades mais notáveis do Dérbi é a divergência nos números totais de confrontos. O Palmeiras contabiliza 394 jogos, enquanto o Corinthians registra 384. Uma diferença de dez partidas que levanta questionamentos.

A explicação para essa disparidade reside na inclusão de partidas válidas por Torneios Início e pela Taça Augusto Henrique Mündel nas contas do Palmeiras. O clube alviverde considera esses jogos relevantes por terem gerado repercussão à época, além de terem sido disputados com uniformes oficiais, trio de arbitragem, bilheteria e súmula, mesmo que não tivessem a duração padrão de 90 minutos. Em contrapartida, o Corinthians considera apenas duelos que tiveram a duração completa de 90 minutos. Nos últimos anos, essa contagem, que já foi unificada, passou a ter versões distintas.

O Torneio Início, uma competição tradicional entre os clubes paulistas, apresentava partidas com tempo reduzido. Em caso de empate, a vitória era atribuída à equipe com maior número de escanteios. A última edição ocorreu em 1996, no antigo estádio Palestra Italia, com a Portuguesa sagrando-se campeã. As dez partidas contabilizadas apenas pelo Palmeiras são:

• 26/01/1919 - Palestra Italia 0x0 Corinthians (Torneio Início)
• 15/04/1923 - Palestra Italia 1x0 Corinthians (Torneio Início)
• 11/04/1926 - Palestra Italia 1x2 Corinthians (Torneio Início)
• 12/05/1935 - Palestra Italia 0x0 Corinthians (Torneio Início)
• 03/07/1938 - Palestra Italia 0x0 Corinthians (Taça Henrique Mündel)
• 12/03/1944 - Palmeiras 0x1 Corinthians (Torneio Início)
• 01/08/1954 - Palmeiras 0x0 Corinthians (Torneio Início)
• 04/06/1957 - Palmeiras 2x1 Corinthians (Torneio Início)
• 17/05/1958 - Palmeiras 1x0 Corinthians (Torneio Início)
• 12/01/1969 - Palmeiras 2x0 Corinthians (Torneio Início)

As vitórias no clássico também apresentam números divergentes. Pelas contas do Corinthians , o Timão soma 130 vitórias, o Verdão 135, e ocorreram 116 empates. Já nas contas do Palmeiras, são 139 vitórias alviverdes, 132 do Corinthians e 120 empates. Abaixo, um comparativo:

Confrontos Históricos: Recordes e Goleadas Memoráveis

O primeiro Dérbi da história ocorreu em 6 de maio de 1917, com o Palmeiras, ainda como Palestra Italia, vencendo o Corinthians por 3 a 0, com três gols de Caetano, em partida válida pelo Campeonato Paulista, disputada no Parque Antarctica. Os alvinegros alinharam com Russo, Adelino e Casemiro; Ciasca, Plínio e César Nunes; Américo, Marconi, Amílcar, Apparício e Neco. Já os alviverdes entraram em campo com Flosi, Grimaldi e Bianco; Bertolini, Picagli e Fabbi; Ministro, Caetano , Heitor Orlando e Martinelli.

A maior goleada do Palmeiras sobre o Corinthians foi um histórico 8 a 0, em 5 de novembro de 1933, no Parque Antarctica, em jogo válido pelo Campeonato Paulista e Torneio Rio-São Paulo. Romeu Pellicciari (quatro vezes), Imparato (três vezes) e Gabardo foram os autores dos gols alviverdes. Por outro lado, as maiores goleadas do Corinthians sobre o Palmeiras foram por 5 a 1. A primeira em 1952, pela Taça Cidade de São Paulo, e a segunda em 1982, no auge da Democracia Corintiana, pelo Campeonato Paulista.

Os Artilheiros do Dérbi: Lendas e Nomes Atuais

No quesito artilharia, Cláudio lidera pelo Corinthians com 21 gols, seguido por Baltazar (20), Luizinho (19) e Teleco (16). Marcelinho Carioca, com 13 gols, figura como uma referência para a Fiel, especialmente pela conquista do Paulistão de 1995. Pelo Palmeiras, Heitor é o maior goleador com 17 gols, seguido por César Maluco e Romeu Pellicciari (14 gols cada), Alex (dez gols) e Evair (nove gols).

No século atual, Romarinho, ex-xodó da torcida corintiana, marcou cinco gols em cinco jogos entre 2012 e 2014. Essa mesma marca foi alcançada por Luiz Adriano (entre 2020 e 2021, incluindo a final do Paulistão de 2020) e Raphael Veiga, que marcou o segundo gol na vitória alviverde no primeiro turno do Brasileirão 2023.

Domínio nos Palcos Modernos e Finais Épicas

Quando se trata de mais aparições no Dérbi, Cláudio lidera pelo Corinthians com 51 partidas (1945-1957), seguido por Luizinho com 44 (1948-1960 e 1964-1967). Oswaldo Brandão comandou o Timão em 30 Dérbis. Pelo lado palmeirense, Ademir da Guia é o recordista com 59 partidas, e Oswaldo Brandão também é o treinador com mais clássicos pelo Verdão, com 34 jogos.

Nos estádios modernos, a Neo Química Arena já sediou 21 Dérbis: oito vitórias corintianas, seis palmeirenses e sete empates. Um desses empates, na semifinal do Paulistão de 2015, resultou em vitória do Verdão nos pênaltis. No Allianz Parque, em 15 jogos, o Palmeiras venceu seis vezes, o Corinthians cinco (incluindo a vitória que rendeu o título estadual de 2018 nos pênaltis), e houve quatro empates (o de 2020 teve vitória palmeirense nos pênaltis na decisão do Paulistão).

Considerando apenas torneios de importância estadual ou nacional, Corinthians e Palmeiras já se enfrentaram em 12 finais. O Palmeiras tem oito títulos sobre o Corinthians (Paulistão de 1936, 1974, 1993 e 2020; Brasileirão de 1994; Rio-São Paulo de 1951 e 1993; e uma edição extra do Paulistão de 1938). O Corinthians , por sua vez, conquistou quatro títulos em finais contra o rival (Paulistão de 1995, 1999, 2018 e 2025).

O maior público da história do Dérbi foi registrado em 22 de dezembro de 1974, no Morumbi, quando 120.522 pagantes assistiram à vitória do Palmeiras por 1 a 0, que garantiu o Campeonato Paulista e prolongou o jejum de títulos do Corinthians por quase duas décadas. Em contraste, o menor público ocorreu em agosto de 2000, pela Copa João Havelange, com apenas 3.139 pagantes no Morumbi. Curiosamente, foi o primeiro Dérbi após a semifinal da Libertadores do mesmo ano, quando Marcos defendeu um pênalti de Marcelinho Carioca, eliminando o rival. Em 2020, o clássico foi disputado pela primeira vez com portões fechados.