Corinthians: Stabile Detalha "Corte na Carne" e Busca por Reforços

A situação do Sport Club Corinthians Paulista exige uma intervenção drástica e imediata. A avaliação é de Osmar Stabile, atual presidente interino do clube, que em recente coletiva de imprensa no Parque São Jorge, delineou um diagnóstico contundente e projeções ambiciosas para o futuro da instituição.

Durante aproximadamente quarenta e cinco minutos, o dirigente apresentou um panorama de seus sessenta dias à frente da administração, delineou os próximos passos e confirmou sua intenção de concorrer à presidência, caso o processo de impeachment de Augusto Melo seja ratificado em 9 de agosto.

Stabile reiterou em diversas ocasiões as severas dificuldades financeiras que o Corinthians enfrenta, sublinhando a urgência de auxílio externo. Contudo, em sua perspectiva, a solução para a recuperação reside em uma gestão mais competente e não na transição para o formato de Sociedade Anônima do Futebol (SAF).

O Imperativo do "Corte na Carne" e a Rejeição à SAF

O presidente interino foi incisivo ao abordar a necessidade de uma reestruturação profunda. "O Corinthians precisa de gestão, não pode correr atrás dos problemas, tem que correr na frente. Há dificuldades, vocês estão vendo. O Corinthians vai se transformar, e isso o presidente está disposto a fazer. Vai ter que cortar na carne, vai ter que fazer mudanças bruscas? Vamos fazer. Temos que resolver o problema", afirmou Stabile, destacando a postura proativa que pretende implementar.

Ele prosseguiu com um apelo à união da comunidade corintiana: "Quero conclamar a todos: nos ajudem a ajudar o Corinthians . Não quero apoio para a gestão Osmar, quero apoio ao Corinthians . Quero deixar um recado para aqueles que ficam fazendo política: o Corinthians não aguenta mais. O momento é de mudança, contamos com o apoio de todos. Todos os interessados, que venham aqui e ajudem. É momento de transformar, aquele que não quer ajudar, que fique longe. Os que quiserem serão bem recebidos."

Ao ser questionado sobre a natureza dessa "mudança brusca", Stabile detalhou: "Quando falamos em cortar na carne seria sobre os gastos desnecessários que temos hoje. Se você pegar em vários departamentos, encontra gastos desnecessários. Infelizmente, você precisa cortar despesas tirando pessoas. Não é bom, mas às vezes é necessário. Precisamos reorganizar, por isso falo em cortes."

Ele utilizou uma analogia para ilustrar a situação financeira do clube: "Para vocês entenderem, o Corinthians é como se fosse uma caixa d'água cheia de furos e jorra água por vários desses furos. Alguns furos já foram fechados, outros terão que ser. Mas não conseguimos fechar tudo de uma hora para outra. Estamos concentrando as despesas onde tem que ser. O futebol é o coração do Corinthians ? Sim, então é lá que vamos concentrar investimentos."

Ambição Política: Stabile e o Futuro da Presidência

Eleito primeiro vice-presidente do Corinthians no final de 2023, Osmar Stabile assumiu a liderança do clube há sessenta dias, após o afastamento de Augusto Melo. Caso os sócios do Timão confirmem o impeachment, uma nova eleição será conduzida, restrita à participação de conselheiros.

Sobre a possibilidade de permanecer no cargo, Stabile foi direto: "Sim, pretendo (ser candidato). Se o Conselho Deliberativo disser que eu tenho que continuar, eu desejo continuar. Comecei um trabalho para que a gente possa melhorar a situação do Corinthians . O Conselho precisa votar a favor, comecei agora o trabalho, tenho apenas 60 dias, mas grandes coisas já foram feitas, novas também serão feitas. Vamos dar continuidade se o Conselho Deliberativo assim entender. Estou à disposição."

Ainda sobre a SAF, o presidente interino foi enfático: "Em hipótese alguma. O Corinthians tem recebíveis, precisa organizar isso. Recebemos o Corinthians sem fluxo de caixa para maio, junho e julho. Praticamente sem nada, o que tinha de receber foi em janeiro e fevereiro, só que o dinheiro foi utilizado de uma forma que não sei, não chegou no futebol. O coração do Corinthians precisa ser alimentado, o coração é uma bomba química, há todos os elementos lá dentro."

Ele acrescentou sobre o fluxo de caixa: "O nosso coração é o futebol. Por que não pagou os prêmios? 40% do que tínhamos que receber da Liga já recebemos, só que o fluxo de movimentação do dinheiro é assim: você recebe no início e no fim do ano. E o meio, não vive? Vive e precisamos de dinheiro. O grande problema que passamos no fluxo de caixa foi isso aí. Entra dinheiro, mas entra no começo e no final. E o meio? Como eu disse, estamos correndo atrás, quando deveríamos estar correndo na frente."

Responsabilidade e Transparência: Investigação e Balanço de Gestão

A questão da responsabilização por gastos inadequados também foi abordada por Stabile. "Os gastos desnecessários serão investigados. O que coube ao Corinthians neste primeiro momento foi abrir um boletim de ocorrência, estamos buscando a verdade. Fomos buscar no banco se tudo aquilo que foi confirmado é verdadeiro. Houve gastos que já foram confirmados, inclusive pelo ex-presidente (Andres Sánchez), mas precisa responder no Conselho."

Ele esclareceu os limites de sua atuação: "O presidente não pode fazer nada, mas estará apoiando o Conselho para que tome a melhor decisão e puna quem tiver de ser punido. O presidente hoje não pode vir o dia todo trabalhar aqui no clube, pela manhã preciso ir nas minhas minhas empresas e venho para o Corinthians a partir das 13h/14h e posso ficar até meia-noite. Não uso o corporativo do Corinthians para nada."

Stabile enfatizou a importância da colaboração do Conselho Deliberativo: "O Corinthians tem que trabalhar isso, o Conselho Deliberativo tem que trabalhar isso. O presidente não pode fazer isso estatutariamente, o que podemos fazer é cobrar o Conselho Deliberativo. Sobre uma auditoria, o que eu posso fazer é dentro da gestão. Essa gestão eu posso fazer, não há problema algum. Fora dessa gestão, não posso fazer nada, quem pode fazer é o Conselho Deliberativo."

Ao fazer um balanço de seus dois meses de administração, Stabile destacou avanços: "Evolução teve. Todo mundo está entendendo que o Corinthians mudou o método de trabalho. Hoje, o Corinthians tem metodologia, processo. Nós estamos organizando de baixo para cima. As coisas não funcionavam da maneira que deveriam. Tudo começou através de uma nova gestão, a forma de executar, pensamento administrativo. Quero aproveitar a oportunidade para dizer que existiam 120 maneiras de fazer e já foram utilizadas 119. Temos mais uma oportunidade e não podemos deixá-la passar, quero deixar recado para os associados, para a torcida: 'É momento de mudar, de transformar. Não dá mais para esperar'."

Ele concluiu sobre a necessidade de trabalho conjunto: "Não tem homem que sentará aqui na cadeira do Corinthians e resolverá o problema sozinho. Não vai resolver. O problema do Corinthians será resolvido em conjunto com as pessoas, os departamentos, organização. Sozinho, não vai resolver. Isso que estamos melhorando."

Desafios Específicos: Dívidas, Base e Contratos

Em relação às premiações em atraso, Stabile revelou uma surpresa: "Nós fomos surpreendidos também, sabíamos da premiação atrasada, mas não sabíamos do atraso na premiação do Brasileiro. Descobrimos que tinha um resíduo do Brasileiro no valor aproximado de R$ 3 milhões. Juntamos o Campeonato Paulista e o Brasileiro e fizemos em três parcelas. Estamos em dia. O feminino também estava atrasado, fizemos em parcelas e pagamos uma. Agora, vamos planejar o pagamento do futuro."

Sobre os projetos na base, o presidente interino ressaltou a importância do setor para o futuro do clube: "A base, que pode resolver o problema do Corinthians , está sendo organizada. Não tem mais um empresário que entre lá. Estamos estruturando os departamentos, está tudo sendo organizado. É necessário tempo para organizarmos tudo isso, mas está sendo organizado. Se não organizarmos, vai ficar do jeito que estava antes. Tinha tanto jogador lá que faltava campo, hoje melhorou bastante. Acredito que podemos melhorar mais ainda, organizar tudo. Existe um projeto na nossa mão e vamos colocar em prática na base. Vamos começar a implementar a partir de agora."

A volta de ex-dirigentes à gestão do clube também foi um tema abordado: "Já falei sobre isso em uma outra entrevista, sobre em 60 dias você contratar uma pessoa sem conhecimento algum do que está acontecendo no Corinthians . Só o tempo que você gastaria para que a pessoa se adequasse ao sistema, demoraria mais de 60 dias. Precisava pegar pessoas que já tinham conhecimento na área. Na última reunião do CORI, levamos números do trimestre passado. Estava tudo desorganizado e agora organizamos. Eles gostaram e já nessa semana vamos levar para o Conselho Fiscal. Não teve reclamação, olharam e gostaram. Se eu colocar pessoas sem esse conhecimento, talvez demoraria 90 dias e a minha gestão acabou. Preciso de gente com conhecimento."

Quanto ao contrato com a Nike, Stabile detalhou a complexidade das negociações: "O contrato foi muito difícil de negociar, tanto da outra empresa como o da Nike. Trabalhamos muito em cima disso, chegamos a virar 24 horas negociando sem parar. No final, encontramos o melhor caminho para o Corinthians . Falo de coração: gostaria que fosse a Nike, que já era parceira. Conseguimos negociar e não poderíamos quebrar um contrato que ia até 2029 agora em 2025 sem que tivesse um processo. Ajustamos o contrato e ficou melhor. Se a Nike não entregar material, não consegue atingir objetivo e ganhar dinheiro junto com o Corinthians . Falamos sobre pontualidade nas entregas."

Por fim, sobre o reconhecimento facial na arena e o combate ao cambismo, Stabile afirmou: "Todo o trabalho que está sendo realizado é para entender os problemas que nós temos. Já sabíamos de alguns problemas, comunicamos ao presidente anterior, e providências não foram tomadas. Estamos organizando todos os departamentos, para pegar é difícil. Quero comentar que hoje fiquei sabendo que ainda tinha cambismo, vamos abrir boletim de ocorrência sobre isso. Se tem, vamos correr atrás para descobrir de onde vem. Podem ter certeza que vamos encontrar."