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Corinthians: Sala Cognitiva no CT Eleva Performance Mental dos Atletas – Detalhes Exclusivos
Por Redação FuTimão em 22/10/2025 11:13
A vanguarda do esporte de alto rendimento encontrou um novo lar no Centro de Treinamento Dr. Joaquim Grava. O Corinthians, com uma iniciativa audaciosa, inaugurou uma sala de treinamento cognitivo que promete redefinir os paradigmas da preparação atlética. Esse espaço, equipado com luzes intermitentes, telas sensíveis ao toque e óculos de realidade virtual, integra-se agora à rotina do elenco, com o propósito explícito de adestrar a mente dos jogadores com a mesma intensidade dedicada ao preparo físico.
A premissa central é clara: o limite do desenvolvimento físico está sendo atingido, e a próxima grande evolução reside na capacidade cognitiva. Como bem pontua Victor Cavallari, psicólogo do esporte e doutor em Psicobiologia, "Cada vez mais os profissionais do esporte têm trazido a neurociência como ponto diferencial para o dia a dia de trabalho. A próxima evolução do esporte é a evolução neurocientífica. É explorar mais a capacidade cognitiva, porque o corpo já está chegando ao limite. Sono, nutrição, fisiologia, recuperação física, treino de força, treino de potência, tudo isso já vai chegar no limite. Só que a gente não explorou muito o cérebro ainda. Chegou a era do cérebro".
A implementação deste projeto teve início em janeiro com a chegada do preparador mental Lulinha Tavares, que supervisiona a operação da sala, adjacente à academia do CT. A visão de Tavares é que a abordagem mental transcende a mera saúde. Ela se volta para a otimização da performance em campo.
A Nova Fronteira da Performance Mental no Futebol
A distinção entre cuidado com a saúde mental e performance mental é crucial para compreender a filosofia por trás do novo departamento. Lulinha Tavares elucida essa diferença:
"Hoje se encara a parte mental não somente como cuidado da saúde. Alta performance não tem nada de saúde mental. O que se exige é performance mental."
Essa performance é multifacetada, conforme detalha o próprio preparador:
"Performance mental se divide em duas partes: o atleta se autoconhecer, se autorregular e controlar a ansiedade, a respiração e os batimentos cardíacos, assim como treinar aspectos como atenção, reação, visão periférica e controle de impulsividade, o que auxilia na tomada de decisão, que é a nova fronteira de desenvolvimento do atleta."Em um cenário esportivo cada vez mais competitivo, onde frações de segundo podem determinar o resultado de uma jogada, a acuidade mental torna-se um diferencial inestimável.
O objetivo é claro: munir os atletas de ferramentas para que, em momentos decisivos de uma partida, sejam capazes de processar informações e executar a melhor ação no menor tempo possível, independentemente do nível de fadiga ou do estágio do jogo. O cérebro, argumenta Tavares, é uma musculatura passível de treinamento e aprimoramento contínuo.
Tecnologia de Ponta a Serviço da Cognição Alvinegra
Diariamente, antes de pisarem no gramado, os jogadores do Corinthians submetem-se a avaliações da equipe de fisioterapia e realizam a ativação física na academia. Paralelamente, uma parcela do elenco direciona-se à sala de treinamento cognitivo. A adesão, por enquanto, não é compulsória, mas sim fomentada pela convicção dos próprios atletas e pela percepção dos benefícios tangíveis.
A sala abriga uma série de equipamentos de última geração. Telas interativas, óculos de realidade virtual e dispositivos com luzes piscantes são apenas alguns dos recursos que compõem o arsenal tecnológico. Esses instrumentos são desenhados para desafiar e estimular as funções cerebrais, complementando a preparação física tradicional.
O preparador Lulinha Tavares também estende essa metodologia para além do CT, acompanhando o elenco em suas viagens e levando parte das atividades cognitivas aos vestiários antes dos confrontos. Sua justificativa é perspicaz:
"Basta você imaginar que o atleta passa 40 ou 45 minutos aquecendo o corpo. E, muitas das vezes, erra o primeiro passe. É necessário que ele também treine o seu cérebro, o seu olho, a sua mente, para adequar os seus níveis neurológico, visual e de concentração."
Do Ceticismo à Liderança: O Impacto nos Atletas
A aceitação inicial entre os jogadores variava. O atacante Gui Negão, por exemplo, confessou receio em participar das atividades. No entanto, sua postura mudou drasticamente, transformando-o em um dos frequentadores mais assíduos, ao lado de nomes como Yuri Alberto, os zagueiros André Ramalho e Cacá, e o goleiro Felipe Longo. Lulinha Tavares estima que cerca de dez atletas utilizam a sala diariamente.
Gui Negão relata sua transformação:
"Antes eu tinha medo de ir lá. O pessoal que fazia era mais experiente e eu tinha receio de ir e fazer errado. Mas hoje eu acho muito importante para os treinos e os jogos, ajuda na concentração, na atenção e na tomada de decisões."Essa experiência reflete a crescente conscientização sobre a importância do aspecto mental no desempenho esportivo.
Yuri Alberto , um dos entusiastas do projeto, também compartilha sua perspectiva:
"Eu estou melhorando bastante meu foco, porque a gente está fazendo bastante coisa bem positivas com o Lulinha. Tem sido muito positivo para nós isso. Eu já tenho hiperfoco dentro do jogo, mas, para alguns que não têm, poder treinar controle de impulsividade, agilidade e reação, tem sido muito positivo para nós. Todos os dias, grande parte do grupo tenta passar ali para fazer algumas coisas para poder estar com a cabeça mais ativa para a hora do treino."
Desvendando os Métodos: Como o Cérebro é Treinado
Entre as diversas atividades propostas, uma das favoritas de Gui Negão envolve o uso de óculos que, a cada piscar, vedam a visão em áreas específicas. O jogador deve verbalizar uma letra lida em um quadro enquanto toca uma bola com a perna indicada em uma lista. Lulinha explica que o cérebro, ao "completar" a imagem vedada, estimula a neuroplasticidade.
"Hoje se sabe que, por neuroplasticidade, você consegue capacitar o neurônio, para a velocidade de reação do atleta ser muito mais rápida. O que isso dá nele? Confiança e autocontrole. É criada uma dificuldade, e esse atleta encontra soluções,"detalha Tavares, enfatizando a capacidade do cérebro de se adaptar e aprimorar.
Outro exercício popular é o "toque rápido", realizado em uma tela interativa. Nele, o atleta deve tocar o mais velozmente possível em círculos que surgem no monitor, com um limite de 60 segundos. Gui Negão lidera o ranking desta atividade, com 114 pontos, o que se traduz em um tempo de reação de 526 milissegundos por toque.
O "trilhas de números" é outra atividade cognitiva amplamente praticada, exigindo que o jogador toque em círculos numerados na sequência crescente. Este treino visa aprimorar o raciocínio lógico e a atenção sustentada, com Felipe Longo despontando como o líder atual. A efetividade desses métodos reside na premissa de que
"O seu cérebro é treinável. O cérebro não discerne o que é real e o que é imaginário. O cérebro fica treinado, assim como a musculatura fica treinada. Com isso, a tomada de decisão fica muito melhor,"afirma Lulinha.
Corinthians e a Visão de Futuro para o Atleta Completo
Os resultados observados nos atletas que frequentam o novo espaço são promissores. A visão de longo prazo do Corinthians é ambiciosa: a partir do próximo ano, os jogadores deverão passar por testes cognitivos no início de cada temporada, de forma análoga aos exames médicos e avaliações físicas. Esse monitoramento permitirá uma aferição precisa da evolução individual e a potencialização do desempenho mental.
Fabinho Soldado, executivo do clube, enxerga o projeto como um passo inevitável na evolução do treinamento esportivo, posicionando o Corinthians como um dos pioneiros no cenário nacional.
"Comprovadamente o futebol de alto rendimento é de detalhes, e esse departamento vem para ajudar para que os atletas possam, com o treinamento mental, terem foco maior a cada jogo. E que o clube consiga, ao final, ter um atleta melhor preparado para ajudar o Corinthians em busca de seus objetivos,"declara Soldado.
A iniciativa do Corinthians não apenas reflete uma busca incessante por excelência, mas também sinaliza uma compreensão profunda de que, para atingir o ápice no esporte moderno, é imperativo treinar não apenas o corpo, mas, sobretudo, a mente. A era do cérebro no futebol alvinegro está apenas começando.
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