Corinthians Paga Pensão Milionária a Ex-Meia da Base por Lesão

Uma decisão judicial recente impôs ao Corinthians a obrigação de pagar uma pensão mensal a Kauê Moreira de Souza, ex-atleta de suas categorias de base, até o ano de 2035. A determinação judicial abrange também uma indenização por danos morais, totalizando um montante que se aproxima dos R$ 2,5 milhões. O veredicto da Justiça do Trabalho de São Paulo destaca a complexidade das relações entre clubes e jovens talentos, especialmente quando lesões graves entram em cena.

Kauê, que permaneceu por cinco anos no clube alvinegro, alega que três desses anos foram marcados por sua inatividade, consequência de uma lesão que, segundo sua versão, não recebeu o tratamento adequado por parte do departamento médico corintiano. Durante sua passagem pelo Timão, o meio-campista disputou apenas 13 partidas nas categorias de base, sem registrar gols, e nunca teve a oportunidade de integrar os treinamentos com a equipe profissional.

O jogador, que previamente passou pelas bases de Taboão da Serra, São Bernardo e São Paulo, formalizou seu vínculo com o Corinthians em abril de 2019, aos 18 anos. Inicialmente, o contrato foi estabelecido por dois anos, sendo subsequentemente estendido até 2022. Nesse período, Kauê chegou a ser cedido por empréstimo ao Oeste, de São Paulo, por um período de cinco meses entre 2019 e 2020.

A Trajetória da Lesão e o Desencadeamento Judicial

A situação de Kauê tomou um rumo decisivo em abril de 2021, quando sofreu uma entorse no joelho direito durante uma sessão de treinamento na base corintiana. Esse incidente marcou o início de um período prolongado de dores e dificuldades de locomoção que o acompanhariam nos anos subsequentes. O diagnóstico revelou um espessamento fibrocicatricial do ligamento colateral medial e uma tendinopatia patelar, uma lesão de sobrecarga no tendão que conecta a patela à tíbia, um problema crônico similar ao enfrentado pelo meio-campista argentino Rodrigo Garro.

Em sua busca por recuperação, Kauê foi submetido a sessões de fisioterapia e a tratamentos com infiltrações no joelho, visando mitigar as dores durante sua participação no Campeonato Brasileiro de Aspirantes de 2021. Posteriormente, o atleta foi emprestado ao Marcílio Dias, de Santa Catarina, mas não conseguiu entrar em campo. Ao retornar ao Corinthians três meses depois, uma nova avaliação médica indicou a necessidade de uma intervenção cirúrgica no joelho, que foi realizada em março de 2022.

Contrariando as expectativas, as dores persistiram mesmo após o procedimento. O jogador chegou a ser informado da necessidade de uma segunda cirurgia, que, entretanto, não se concretizou. Nos meses seguintes, apenas sessões de fisioterapia foram conduzidas. A defesa de Kauê argumenta no processo judicial que a ausência de uma cirurgia adequada para o tratamento da lesão provocou seu agravamento. Uma nova intervenção cirúrgica só ocorreu em julho de 2023, mas, ainda assim, não trouxe melhorias significativas ao seu quadro clínico.

O Pós-Corinthians e a Busca por Justiça

Em abril de 2024, o Corinthians optou por não renovar o contrato de Kauê. O jogador deixou o clube ainda com queixas de dores e limitações físicas no joelho. Em decorrência da lesão, Kauê não disputou nenhuma partida profissional entre os 20 e 23 anos, período de 2021 a abril de 2024. Atualmente, o atleta tem 25 anos de idade.

Após o término de seu vínculo com o Timão, Kauê, que somou 13 jogos na base, buscou novas oportunidades. Em 2024, ele atuou em cinco partidas como profissional pelo Itaberaí, de Goiás, marcando um gol. Posteriormente, jogou por 20 minutos com a camisa do Inhumas no Campeonato Goiano, mas precisou deixar o campo devido às dores e limitações no joelho.

Diante desse cenário, o jogador iniciou uma ação na Justiça do Trabalho contra o Corinthians . Sua alegação central era que a lesão se configurava como um acidente de trabalho, resultando em uma incapacidade permanente para a prática do futebol profissional.

A Condenação e as Consequências Financeiras

Com base em um laudo elaborado por uma perita judicial, o juiz Ivo Roberto Santarem Teles, da 6ª Vara do Trabalho de São Paulo, proferiu uma sentença favorável a Kauê. A decisão condenou o Corinthians a indenizá-lo por danos morais no valor de R$ 50 mil, além de uma pensão mensal de R$ 12 mil ao ex-atleta, a ser paga até setembro de 2035. O montante incluirá 13º salário e férias proporcionais, elevando o valor total devido ao jogador a aproximadamente R$ 2,5 milhões.

Procurado para comentar a condenação em primeira instância, o Corinthians não se manifestou. É importante ressaltar que a decisão ainda está sujeita a recurso, e o clube tem a prerrogativa de contestá-la em instâncias superiores.