Corinthians: Impeachment Augusto Melo Anulado | Disputa Conselho Deliberativo | Romeu Tuma Jr

A Instabilidade na Cúpula Corinthiana: Um Cenário de Conturbação Política

O Sport Club Corinthians Paulista, uma instituição de vulto no cenário desportivo nacional, encontra-se mergulhado em um turbilhão político sem precedentes. Menos de uma semana após a destituição de seu presidente, Augusto Melo, por meio de um processo de impeachment votado em 26 de maio, uma manobra surpreendente reverteu a situação, recolocando o mandatário em sua cadeira. Tal ação, orquestrada por seus apoiadores, é veementemente rechaçada pelo atual presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Jr., que classifica o episódio como um ultrajante "golpe de quinta categoria".

Foto: (Marcos Ribolli)

A Gênese da Controvérsia: O Afastamento Questionado de Romeu Tuma Jr.

A raiz da atual agitação reside em uma decisão datada de 9 de abril, emanada do Conselho de Ética do próprio órgão, que determinou o afastamento de Romeu Tuma Júnior da liderança do Conselho Deliberativo. Embora a resolução tenha sido proferida há quase dois meses, sua formalização ocorreu apenas na última sexta-feira, por meio de um ofício encaminhado à secretaria do Conselho pelo conselheiro Mário Mello, relator do processo. Essa medida serviu de alicerce para a conselheira Maria Angela de Souza Ocampos assumir a presidência do Conselho neste sábado, um movimento crucial na recondução de Augusto Melo.

As acusações contra Tuma Jr. são graves: a suposta condução parcial do Conselho e a deterioração da imagem do Corinthians por meio de pronunciamentos públicos. A maioria dos integrantes da Comissão de Ética fundamentou sua decisão na premissa de que a permanência de Tuma no cargo perpetuaria tais prejuízos à reputação do clube.

Em sua defesa, o presidente afastado argumentou a inexistência de amparo estatutário para tal tipo de afastamento e que qualquer sanção cautelar deveria ser deliberada pelo plenário do Conselho, e não apenas pela Comissão de Ética. Adicionalmente, sua defesa apontou a "ausência de justa causa para o pedido cautelar".

A votação que selou o afastamento liminar de Tuma Jr. na Comissão de Ética revelou a seguinte divisão:

A Recondução de Augusto Melo e a Proclamação de Anulação

A cena no Parque São Jorge neste sábado foi de intensa agitação, com Augusto Melo e seus apoiadores adentrando a sede social do clube em um movimento decisivo para a retomada do poder. A conselheira Maria Angela de Souza Ocampos, figura central e aliada do presidente, declarou a nulidade de todas as ações empreendidas por Tuma Júnior desde 9 de abril, incluindo, e de forma crucial, a própria votação do impeachment que havia afastado Augusto Melo dias antes.

Maria Angela, que se apresenta como a legítima sucessora do cargo de presidente do Conselho Deliberativo ? uma vez que o vice-presidente, Roberson de Medeiros, encontra-se de licença médica e ela é a 1ª secretária ?, proferiu um comunicado formalizando sua posição e suas determinações:

"Determino, no pleno exercício das minhas funções de presidente do Conselho Deliberativo: 1) a suspensão dos efeitos de todos os atos irregularmente praticados pelo senhor presidente do Conselho Deliberativo, senhor Romeu Tuma Júnior, desde o dia 9 de abril de 2025, data em que foi determinado e se tornou notório o seu afastamento dos exercícios de suas funções, decretando a nulidade inclusive da decisão tomada pelo plenário do Conselho Deliberativo no dia 26 de maio de 2025, relativamente ao afastamento do cargo do senhor presidente da diretoria."

"2) que o presidente da diretoria, senhor Augusto Melo, eleito pelos votos dos associados reassuma imediatamente o cargo do qual foi indevidamente afastado, seguindo a orientação expedida pela Comissão de Ética de que deva ser aguardado o fim do inquérito policial para que possa ser julgada pelo Conselho Deliberativo em reunião regulamente convocada e da qual participe exclusivamente os conselheiros que sejam considerados aptos a deliberar na forma estatutária."

A Resposta Incisiva de Romeu Tuma Jr.: Acusações e Desaparecimento de Documentos

A contundente resposta de Romeu Tuma Júnior não tardou. O presidente do Conselho Deliberativo, cuja remoção é o cerne da reviravolta, recusa-se terminantemente a reconhecer seu afastamento, alegando jamais ter sido oficialmente comunicado da decisão. Suas objeções são múltiplas e incisivas:

"Primeiro: não fui notificado. Segundo: não reconheço meu afastamento. Pelos documentos publicados pela imprensa, vi que a ata não tem a assinatura do presidente, Roberson de Medeiros. Terceiro: a decisão tem que ser do colegiado, não do relator. Nesse sentido, quem tem que me notificar é o presidente da Ética, não o relator do caso. Quarto e mais importante: pedi para a secretária do Conselho para ter acesso aos processos da Comissão de Ética. Os processos contra mim não estão no clube! Sumiram!"

A acusação de que os processos que o incriminam teriam "sumido" do clube adiciona uma camada de mistério e desconfiança a um cenário já intrincado, sugerindo a existência de manipulações nos bastidores da instituição.

O Futuro Incerto: A Batalha Legal e Política Continua

Apesar da recente reviravolta, a saga política no Corinthians está longe de um desfecho. O processo de impeachment de Augusto Melo, que o havia afastado inicialmente, foi referendado por uma expressiva maioria de conselheiros, com 176 votos favoráveis à sua destituição e apenas 57 contrários. O resultado conduziu o vice-presidente, Osmar Stabile, à presidência interina.

Contudo, para que o impeachment seja definitivamente sacramentado, um novo escrutínio se faz necessário, desta vez por parte dos associados do clube. Romeu Tuma Júnior, antes de ser contestado, havia convocado a assembleia de sócios para o dia 9 de agosto, data que se torna agora um ponto crucial na definição dos rumos da gestão corintiana. A complexidade das manobras e contra-manobras sugere que a estabilidade na cúpula do Corinthians ainda é uma miragem distante.