Corinthians em Casa: Por Que a Neo Química Arena Perdeu Sua Força?

O Sport Club Corinthians Paulista enfrenta um período de resultados adversos em seus próprios domínios. A recente derrota para o Flamengo marcou o sétimo confronto consecutivo sem vitória atuando como anfitrião no Campeonato Brasileiro. Esta sequência preocupante iguala o desempenho negativo registrado na temporada de 2007, um ano infelizmente conhecido pelo rebaixamento do clube à Série B.

Atualmente, o desempenho do Corinthians como mandante na Série A é um dos piores. Com um aproveitamento de apenas 44,4% dos pontos disputados, a equipe do Parque São Jorge supera apenas o Santos, que possui o mesmo percentual, mas um saldo de gols inferior, e o Sport, que ocupa a última posição na tabela.

O Declínio da Fortaleza Alvinegra

A situação atual contrasta drasticamente com a história recente da Neo Química Arena. Em anos anteriores, o estádio era reconhecido como uma verdadeira fortaleza para o Timão, um local temido pelos adversários. Um exemplo notável foi a temporada de 2015, o segundo ano de funcionamento da arena, quando o clube conquistou 16 das 19 partidas disputadas em casa pelo Brasileirão.

Contudo, o rendimento atual está aquém das expectativas. Dos últimos 21 pontos disputados diante de sua torcida, o Corinthians obteve apenas quatro. Essa queda de performance resultou em um significativo recuo na tabela de classificação, deixando o time fora da zona de qualificação para as competições continentais do próximo ano.

A última vitória em casa na Série A ocorreu em 18 de maio, quando o Timão superou o Santos por 1 a 0, em partida válida pela nona rodada. O próximo desafio será neste sábado, às 21h (de Brasília), contra o Mirassol, em Itaquera, uma oportunidade crucial para reencontrar o caminho das vitórias com o apoio de sua torcida.

Análises de Especialistas: Ausências e Tática

Para compreender as razões por trás da dificuldade do Corinthians em somar pontos em casa, diversos comentaristas foram consultados. As opiniões convergem para uma série de fatores, desde a instabilidade do clube até a ausência de peças-chave no elenco.

Sérgio Xavier Filho, por exemplo, destaca a dualidade da Neo Química Arena: "A Neo Química Arena é uma fortaleza, mas é uma armadilha ao mesmo tempo. Fortaleza porque o manancial de pontos do Corinthians era Itaquera, afinal 'caiu em Itaquera, já era'." Ele complementa que a instabilidade do clube, do elenco e da comissão técnica nesta temporada é um fator preponderante. O modelo de jogo com Garro, Memphis e Yuri, que se mostrava eficiente, é prejudicado pela constante ausência desses atletas. Em Itaquera, a equipe se expõe excessivamente, sofrendo gols e agindo com precipitação na tentativa de reverter placares. O comentarista sugere que a ansiedade gerada pelo histórico de sucesso em casa, em um ano de dificuldades ofensivas, contribui para o baixo aproveitamento.

Alline Calandrini reforça a ligação entre o desempenho em casa e as ausências significativas. Segundo ela, o Corinthians adota um esquema tático com losango no meio-campo para potencializar jogadores como Garro , Memphis e Yuri, além de Carrillo, que também se lesionou. "O próprio Dorival só teve esses jogadores na Copa do Brasil, não os teve no Brasileirão. O impacto deles é absurdo, são jogadores decisivos." A analista explica que, sem essas peças, a equipe perde sua característica propositiva, fundamental para atuar em casa. A mudança tática para três zagueiros, beneficiando os alas como Bidu e Matheuzinho, resulta em um jogo menos criativo. Fora de casa, a equipe se adapta melhor ao contra-ataque, evidenciando a dependência da qualidade técnica individual para ditar o ritmo em Itaquera.

Fatores Estruturais e Psicológicos

Alexandre Lozetti aponta que o declínio no percentual de pontos conquistados em casa não é um fenômeno recente. "O percentual de pontos conquistados só diminuiu em 2025, mas há muito tempo o desempenho nos jogos em casa já não é o mesmo." Ele argumenta que muitas vitórias anteriores eram mais fruto da atmosfera intimidadora do estádio do que de um desempenho consistente da equipe. Sem a performance em campo, essa sustentação se torna insustentável. A ausência dos três principais jogadores ? Garro , Memphis e Yuri Alberto? é um agravante em 2024, pois a necessidade de criar jogadas em casa é impactada pela qualidade inferior dos reservas, apesar da ascensão de Gui Negão. A intensidade da equipe não corresponde ao fervor do estádio, e os adversários, cada vez mais, sentem-se à vontade para atacar em Itaquera.

Ana Thais Matos aprofunda a análise, atribuindo a queda de rendimento em casa a uma soma de fatores de ordem mais complexa. Ela remonta aos anos iniciais da Neo Química Arena, quando o bom aproveitamento era reflexo de elencos de alta qualidade, montados com criatividade no mercado. A torcida, sempre presente e atuante, migrou do Pacaembu e manteve o diferencial da Arena. A pandemia, com a redução de público, já começou a impactar. Um ponto crucial, segundo ela, foi a tentativa do clube de alterar o perfil do time. Após a passagem de treinadores com estilos mais reativos, como Jair Ventura e Fábio Carille, o Corinthians buscou um jogo "bonito" com Thiago Nunes, sem antes considerar o perfil do elenco . Desde então, a equipe não reencontrou seu DNA competitivo e vencedor, que sempre foi um diferencial em jogos como mandante.

As recorrentes instabilidades financeiras e políticas no clube também exerceram um impacto significativo no nível das contratações e na pressão psicológica sobre jogadores, diretoria e comissão técnica. Essa sucessão de eventos levou o Corinthians a perder características, enfraquecendo o perfil de seu elenco . Todos esses elementos, de alguma forma, contribuem para a instabilidade que o time demonstra em seus jogos em casa.