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Corinthians e SAF: Entenda a Resistência Interna à Transformação Societária

Por Redação FuTimão em 30/10/2025 10:13

Com um passivo estimado em R$ 2,7 bilhões, a imperiosa necessidade de reestruturação financeira do Corinthians parece evidente. Nesse cenário, o projeto SAFiel, que propõe a conversão do clube em Sociedade Anônima do Futebol (SAF), surge como uma alternativa para sanar as finanças. Contudo, essa ideia, longe de ser um consenso, defronta-se com uma sólida oposição dentro do Conselho Deliberativo, a instância máxima de aprovação para qualquer mudança estrutural significativa no Parque São Jorge.

A composição do Conselho, que reúne 200 membros trienais e 99 vitalícios, reflete um sentimento de profunda desaprovação à proposta. A resistência não se limita a argumentos econômicos ou de viabilidade; ela se aprofunda em questões de identidade e herança. Uma parcela considerável dos conselheiros manifesta a convicção de que o Corinthians , por sua gênese popular, ?não pode ser colocado à venda?, uma frase que ecoa o arraigado valor histórico da instituição.

Entre os críticos da transformação societária, há quem advogue por uma abordagem distinta. Acreditam que a superação das dificuldades financeiras deve vir através de uma gestão mais rigorosa, de uma austeridade fiscal e de uma administração mais eficaz, sem a necessidade de alterar a natureza jurídica do clube. Outros defendem que a SAF não representa uma urgência imediata, e que a estrutura associativa atual possui os meios para transpor o atual cenário econômico.

Adicionalmente, existe uma preocupação latente com as consequências políticas da adoção de uma SAF. A introdução de um novo modelo de governança, temem, poderia diluir a influência e o poder de decisão dos grupos tradicionalmente estabelecidos no comando do clube.

Corinthians e o Dilema da SAF: Tradição Versus Viabilidade Financeira

Essa forte oposição se materializa até mesmo na proposta de reforma do estatuto. Embora o texto contemple a possibilidade de uma futura conversão em SAF, ele estabelece uma barreira crucial: impede que investidores externos assumam o controle majoritário da entidade. Dessa forma, a administração do clube permaneceria sob a responsabilidade exclusiva dos associados. Para os formuladores do projeto SAFiel, essa cláusula restritiva inviabiliza, na prática, a implementação de sua proposta.

Os idealizadores do SAFiel reconhecem a complexidade de fazer a discussão progredir, mesmo com um modelo que prevê a participação dos torcedores como acionistas e que afasta a figura do "dono" majoritário. Eduardo Salousse, advogado e um dos quatro mentores do projeto, expressou seu lamento diante das dificuldades. "Se há novas travas, uma maior dificuldade, eu lamento se isso acontecer. A única certeza de todos nós aqui é que, do jeito que está, nós não sobrevivemos mais um ou dois anos", ponderou Salousse, sublinhando a urgência da situação.

Recentemente, representantes do SAFiel estiveram no Parque São Jorge para formalizar a entrega de uma carta de intenções aos presidentes Osmar Stabile (da diretoria) e Romeu Tuma Jr. (do Conselho Deliberativo). O encontro, que se estendeu por aproximadamente três horas, proporcionou um espaço para que os dirigentes pudessem esclarecer dúvidas e se comprometer com a realização de futuras reuniões internas com os associados.

Os Bastidores Políticos da Rejeição à SAFiel no Parque São Jorge

A ausência do presidente Osmar Stabile no lançamento oficial do projeto SAFiel, ocorrido um dia antes da reunião no Parque São Jorge, gerou críticas. A conselheira Miriam Athie, uma das poucas vozes defensoras da SAFiel no Conselho, lamentou publicamente a postura. "Estou muito triste pelo fato de o presidente não estar aqui. Aqueles que criticam este projeto não têm nada melhor a oferecer. Eu gostaria que viesse uma contraproposta. Para que a gente dissesse que nós não temos que aderir à SAFiel", declarou Miriam, que marcou presença no evento acompanhada do conselheiro vitalício Manoel Cintra.

Por ora, o projeto SAFiel permanece no campo das intenções, uma proposta simbólica que busca catalisar um debate necessário sobre o futuro do Corinthians . Contudo, em face da intensa resistência interna e das salvaguardas estatutárias, suas perspectivas de aprovação concreta dentro do clube permanecem nebulosas.

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