Corinthians: Detalhes da Dívida por Raniele e o Impacto do Transferban da CBF

O recente pagamento de R$ 780 mil pelo Corinthians, que resultou na imediata suspensão de um transferban imposto pela CBF, marca mais um episódio na intrincada disputa financeira com o Cuiabá pela aquisição do meio-campista Raniele. Este evento, que rapidamente reverteu a sanção, ressalta uma reincidente tendência de obstáculos fiscais que têm pautado a gestão do clube paulista.

A Cronologia de um Compromisso Descumprido

A jornada de Raniele para o Parque São Jorge iniciou-se em janeiro de 2024, coincidindo com a posse da nova diretoria liderada por Augusto Melo. O volante, um dos primeiros reforços da gestão, custou cerca de 2,5 milhões de euros (aproximadamente R$ 13,4 milhões à época) por 60% dos seus direitos econômicos. Um montante de 800 mil euros foi quitado de imediato, mas o que se seguiu foi uma sucessão de pendências, conforme detalhado na tabela abaixo:

Em agosto do mesmo ano, uma parcela de 400 mil euros (cerca de R$ 2,4 milhões) não foi honrada, levando o Cuiabá a protocolar uma ação na Câmara Nacional de Resoluções de Disputas (CNRD), órgão da CBF. Três meses depois, em novembro de 2024, mais 520 mil euros (aproximadamente R$ 3,1 milhões) relativos a outra parcela também não foram depositados.

Diante do cenário, o Corinthians apresentou, ainda em novembro de 2024, um plano de reestruturação de suas dívidas à CNRD, que obteve aprovação em abril de 2025. Esse acordo previa o parcelamento trimestral dos valores devidos ao longo de seis anos. A primeira parcela, de R$ 626,7 mil, foi devidamente paga em julho de 2025. Contudo, a segunda, com vencimento em outubro de 2025, no valor de R$ 780 mil, novamente não foi quitada na data, resultando na imposição de um transferban de seis meses pela CBF, sanção que foi revogada após o pagamento efetuado na noite seguinte.

O Desabafo do Presidente do Cuiabá e as Implicações Éticas

Os repetidos atrasos provocaram uma reação veemente do presidente do Cuiabá, Cristiano Dresch, que em entrevista ao UOL, não poupou críticas à postura do clube paulista. Sua declaração expõe uma visão contundente sobre as práticas financeiras no futebol brasileiro.

O Corinthians jamais deveria estar na primeira divisão usando jogadores que eles não pagaram. O Corinthians deve mais de 100 milhões na Fifa. Tem esse plano coletivo na CNRD. São jogadores que estão dando pontos para eles. Eles compraram e não pagaram. O que o Corinthians está fazendo na Série A? Deveria ter sido rebaixado pela CBF ou pela Fifa. Isso que eles estão fazendo é um absurdo.

A fala de Dresch levanta questões sérias sobre a legitimidade da participação de clubes que acumulam débitos significativos, tanto em instâncias nacionais como internacionais. A sugestão de rebaixamento, embora extrema, reflete o descontentamento e a sensação de injustiça por parte dos credores, que veem seus ativos contribuindo para o desempenho de um adversário que não honra seus compromissos.

Raniele: Pilar em Campo, Ponto de Tensão Fora Dele

Apesar da turbulência financeira que o envolve, Raniele consolidou-se como uma peça fundamental no esquema tático do Corinthians . Desde sua chegada, o volante demonstrou adaptabilidade e consistência, tornando-se um dos pilares da equipe sob diferentes comandos técnicos.

Sua trajetória no clube começou como titular incontestável com Mano Menezes e António Oliveira. Embora tenha enfrentado um período de menor destaque com Ramón Díaz, rapidamente recuperou seu espaço, voltando a ser um dos principais nomes com a chegada de Dorival Júnior.

Com uma marca de 100 jogos disputados pelo Corinthians desde 2024, Raniele contribuiu com dois gols e duas assistências. Além de sua função primordial como volante, o atleta tem exibido notável versatilidade, atuando também como zagueiro ? posição em que iniciou sua carreira, mas que vinha sendo menos explorada nos últimos tempos. Sua performance em campo, portanto, contrasta com a instabilidade administrativa que cerca sua própria aquisição.