Corinthians: Despesas Suspeitas, Ex-Presidentes e a Fuga de Documentos

O Sport Club Corinthians Paulista, gigante do futebol brasileiro, encontra-se novamente no epicentro de uma complexa teia de desafios administrativos. A estabilidade interna do clube tem sido posta à prova por uma série de revelações e controvérsias, notadamente aquelas que envolvem o uso de recursos financeiros e a gestão de despesas por lideranças passadas. O cenário atual exige um olhar atento sobre a transparência e a responsabilidade na administração do patrimônio alvinegro.

Novas Acusações Detalham Gastos na Gestão Duílio Monteiro Alves

Recentemente, a atenção da imprensa e dos torcedores se voltou para as finanças do clube durante o período em que Duílio Monteiro Alves esteve à frente da presidência, de janeiro de 2021 a dezembro de 2023. Informações divulgadas pelo portal GE em 22 de julho revelaram que o Corinthians teria arcado com despesas de natureza pessoal atribuídas à gestão do dirigente. Em um recorte de 36 dias de prestação de contas, foram identificadas 176 aquisições, somando um montante de R$ 86.524,62.

Os registros detalham uma variedade de gastos, predominantemente relacionados à alimentação e compras em estabelecimentos comerciais. Contudo, a lista incluiu itens que levantaram questionamentos, como a aquisição de medicamentos para disfunção erétil em uma farmácia localizada em Fortaleza, Ceará, durante o mês de outubro de 2023. Outras despesas notáveis englobam produtos como cerveja, picanha, sorvete, frutas, legumes, produtos de limpeza (água sanitária, amaciante de roupas, detergentes), além de pizzas, peixes, doces, isqueiros, flores, ração animal, bijuteria feminina e até mesmo um cachorro de pelúcia.

Detalhes das Despesas Atribuídas à Gestão Duílio Monteiro Alves (Amostra de 36 dias)

Total de Compras	Valor Total	Principais Categorias de Itens	Exemplos de Produtos Notáveis
176	R$ 86.524,62	Alimentação, Mercados, Pessoal, Higiene	Medicamentos para disfunção erétil, cerveja, picanha, sorvete, ração animal, bijuteria feminina, cachorro de pelúcia, produtos de limpeza.

Em resposta às alegações, Duílio Monteiro Alves negou veementemente ter conhecimento de tais gastos. Em um pronunciamento, ele afirmou:

Diante da grosseira manipulação de supostas planilhas e faturas da minha gestão, divulgadas em perfis anônimos com objetivo político de assassinar reputações nas redes sociais, requeri ao clube acesso a tais documentos, a fim de que pudesse checar sua veracidade.

Ele ressaltou ainda a impossibilidade de seu pedido ter sido atendido até o momento, declarando:

Infelizmente meu pedido não pode ser atendido e, portanto, em razão dessas flagrantes manipulações de documentos, só vou me manifestar quando o clube franquear acesso a eles, pois aí terei dados oficiais para rebater as mentiras. Até lá, porém, tomarei medidas criminais contra quem deturpa informações e também contra quem divulga conteúdo falso contra mim.

Andrés Sanchez e os Gastos com Cartão Corporativo sob Escrutínio

A série de questionamentos sobre o uso de recursos corporativos não se limita à gestão mais recente. O Conselho Deliberativo do Corinthians está em processo de aprofundar a investigação sobre despesas realizadas pelo ex-presidente Andrés Sanchez, especificamente aquelas que envolvem o cartão corporativo do clube. Desde 4 de julho, o Conselho tem recebido solicitações formais para apurar o uso inadequado do cartão em 2020, período em que Sanchez exercia a presidência.

Um dos episódios que motivaram a apuração diz respeito a um gasto de R$ 9.416 no cartão do clube durante uma viagem de Andrés Sanchez a Tibau do Sul, no Rio Grande do Norte. Esta viagem ocorreu entre 28 de dezembro de 2020 e 2 de janeiro de 2021, marcando a fase final de seu último mandato presidencial. A fatura do cartão de crédito corporativo foi divulgada em junho por um perfil na rede social X (anteriormente Twitter), o @Prmalaoficial.

Andrés Sanchez, ao ser confrontado com as informações, reconheceu os gastos. Ele justificou a situação alegando possuir uma conta no banco Santander, assim como o clube, o que teria gerado uma confusão no momento de efetuar os pagamentos. Em contato com o Estadão, o ex-dirigente afirmou ter efetuado o ressarcimento do valor de R$ 15 mil ao Corinthians .

A Atuação do Conselho Deliberativo e a Busca por Documentos

A complexidade das investigações ganhou um novo contorno em 19 de julho, quando o Corinthians registrou um boletim de ocorrência devido ao desaparecimento de registros cruciais sobre o controle de despesas. A ausência desses documentos foi notada após Romeu Tuma Jr., presidente do Conselho Deliberativo, emitir uma ordem para a preservação de todos os registros e materiais de suporte dos últimos sete anos de gestão.

O Conselho Deliberativo tem demonstrado firmeza em sua intenção de conduzir as apurações de forma rigorosa. Um comunicado emitido pela presidência do CD esclarece a metodologia adotada:

Vale destacar que no caso específico dos pedidos referentes à análise do uso do cartão de crédito corporativo por Andrés Sanchez, esta Presidência do CD está analisando todos os pedidos para verificar a viabilidade de unificação em um só processo, evitando-se decisões contraditórias e buscando-se maior agilidade nas apurações - que deverão ser amplas para analisar também se houve imperícia na fiscalização. Não há nada que deixará de ser apurado, e teremos todas as garantias a fim de preservar a ordem, segurança jurídica e celeridade na questão.

Conflitos Internos e o Sumiço de Registros

A diretoria do Corinthians levanta a hipótese de que os documentos ausentes possam ter sido subtraídos em 31 de maio. Naquela data, o presidente afastado Augusto Melo compareceu ao Parque São Jorge, reivindicando seu retorno ao cargo. Sua ação baseou-se em uma decisão da 1ª Secretária do Conselho Deliberativo, Maria Angela de Sousa Ocampos, que havia invalidado a reunião que deu prosseguimento ao processo de impeachment contra o dirigente.

O dia foi marcado por grande tumulto na sede do clube, exigindo a intervenção do Batalhão de Choque da Polícia Militar. Apesar da confusão, os argumentos apresentados por Augusto Melo foram considerados inconsistentes com o estatuto do clube, e Osmar Stabile permaneceu na função de presidente interino.

É relevante notar que Augusto Melo é alvo de denúncia por parte do Ministério Público, que o associa a crimes como lavagem de dinheiro, furto qualificado por abuso de confiança e organização criminosa, no âmbito do inquérito policial referente ao Caso Vai de Bet. O dirigente nega todas as acusações, e sua defesa protocolou um pedido de rejeição sumária da denúncia do MP, alegando "nulidades processuais, direcionamento indevido da investigação e incompetência material".

Este panorama de investigações sobre gastos, sumiço de documentos e disputas de poder reflete um período de intensa instabilidade no Corinthians . A busca por clareza e responsabilidade na gestão financeira e administrativa é um imperativo para o futuro do clube, cujas bases precisam ser sólidas para enfrentar os desafios dentro e fora dos gramados.