Corinthians: Cori Pede Cancelamento de Votação do Estatuto por Ilegalidades

A recente tentativa de reformar o estatuto do Sport Club Corinthians Paulista enfrenta um obstáculo significativo. O Conselho de Orientação (Cori) da instituição solicitou formalmente a suspensão da votação que definirá o futuro regimento do clube, originalmente agendada para a próxima segunda-feira no Conselho Deliberativo. A exigência do Cori baseia-se na detecção de "diversas ilegalidades" no anteprojeto apresentado.

Embora o Cori reafirme seu apoio a uma modernização estatutária, a nota oficial divulgada pelo órgão ressalta a necessidade de cautela. O documento, assinado pelos membros do conselho, não detalha quais seriam essas irregularidades, mas advoga veementemente pelo adiamento da deliberação. O objetivo é permitir "análises cuidadosas dos procedimentos adotados e do conteúdo das alterações propostas em relação à legislação vigente, além do próprio estatuto em vigor".

O Embate no Conselho: Tuma Júnior e a Resistência Interna

No centro da controvérsia está Romeu Tuma Júnior, presidente do Conselho Deliberativo, responsável pela apresentação do anteprojeto. Sua proposta, que visa a uma abrangente reformulação, tem encontrado forte resistência nos corredores do Parque São Jorge. Muitos conselheiros expressam desconforto com o que percebem como um ritmo excessivamente acelerado na tramitação de um tema de tamanha relevância para o futuro do Timão.

A insatisfação se manifestou de forma explícita em uma reunião do Cori em 29 de outubro. Na ocasião, o conselheiro Felipe Ezabella não poupou críticas, classificando o "projeto é imprestável" e defendendo um debate "sem pressa" com "todo o Conselho Deliberativo", além de sublinhar a indispensabilidade de um parecer do próprio Cori. A discussão escalou quando Tuma Júnior contestou a prerrogativa do Cori de revisar o texto, afirmando que o órgão poderia propor alterações, mas não revisar. Conselheiros como Ademir Benedito e Paulo Pedro defenderam o colegiado, culminando em uma acalorada troca de palavras e na retirada do presidente do Conselho da reunião.

Pontos de Fricção e o Futuro da SAF Corintiana

Inicialmente, a votação estava prevista para 17 de novembro, mas foi postergada para o dia 24 do mesmo mês, visando conceder um período adicional para a análise dos conselheiros. Contudo, mesmo com o adiamento, as reclamações persistem. Tuma Júnior tem sido insistentemente questionado sobre diversos aspectos do texto, bem como sobre a metodologia da votação.

Um dos pontos mais contestados é a insistência de Tuma Júnior em uma votação aberta e em bloco, uma postura que ele tem reiterado não abrir mão. Outra cláusula que gera grande descontentamento é a que proíbe o emprego de parentes de conselheiros no clube, uma prática que atualmente abrange diversos familiares de membros do Corinthians .

Em relação à possível transformação do clube em Sociedade Anônima do Futebol (SAF), o Cori entende que "a matéria deve ser amplamente discutida em encontros apropriados com os idealizadores das propostas existentes". O anteprojeto de Tuma Júnior, por sua vez, contempla artigos que preveem uma futura transição para SAF, mas com restrições significativas, assegurando que o controle acionário permaneça sob a alçada dos associados do clube. Além da aprovação pelo Conselho, o anteprojeto necessita da ratificação em assembleia de sócios, agendada preliminarmente para 20 de dezembro.

A íntegra da Manifestação do Cori

A seguir, a nota completa emitida pelo Conselho de Orientação:

O CORI inicialmente ressalta que é amplamente favorável à reforma estatutária, mas, em virtude de diversas ilegalidades identificadas, entende que a reunião designada para o próximo 24.11.2025, para apreciação do anteprojeto, deve ser cancelada, para que sejam procedidas análises cuidadosas dos procedimentos adotados e do conteúdo das alterações propostas em relação a legislação vigente, além do próprio estatuto em vigor.

No que concerne às propostas de transformação do clube associativo em Sociedade Anônima do Futebol (SAF), entende o CORI que a matéria deve ser amplamente discutida em encontros apropriados com os idealizadores das propostas existentes.

Finalmente, o CORI salienta que sempre esteve aberto para discussões a respeito das matérias em questão, de maneira democrática, sempre com o intuito de contribuir para melhorias de nossa instituição.

A situação exige uma reflexão profunda sobre os rumos do Corinthians , com o Cori atuando como um baluarte na defesa da legalidade e da transparência em um momento crucial para a governança do clube.