Corinthians: Conselheiro Detalha Falhas Cruciais no Projeto SAFiel e Alerta para Riscos

O cenário político do Sport Club Corinthians Paulista ganha novos contornos com as declarações contundentes de Paulo Pedro, conselheiro trienal do clube e membro atuante do Conselho de Orientação (CORI). Em manifestação recente, Pedro direcionou severas críticas ao movimento SAFiel, um grupo composto por torcedores e associados que advoga pela conversão do clube em uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF).

Embora reconheça a legitimidade de qualquer discussão que vise aprimorar a instituição, Paulo Pedro enfatizou que tais debates devem ser conduzidos dentro das estruturas formais do clube e fundamentados em informações concretas. Ele também expressou seu descontentamento com a maneira pela qual alguns líderes do projeto SAFiel se referiram à dinâmica política interna do Parque São Jorge.

"Qualquer debate que traga soluções para o Corinthians é bem-vindo. Eu gosto de debate, acho sadio e necessário. Mas me incomoda o movimento externo, essa pressão vinda de fora para depois se discutir internamente", afirmou o conselheiro, sublinhando a preferência por um processo mais orgânico e interno.

Os Pontos de Crítica do Conselheiro Paulo Pedro ao SAFiel

As objeções de Paulo Pedro ao projeto SAFiel são multifacetadas, abrangendo desde a metodologia de debate até a estrutura proposta. Para uma visão clara, apresentamos os principais pontos de contestação:

As Fragilidades Estruturais e a Inviabilidade Jurídica

Um dos eixos centrais da crítica de Paulo Pedro reside nas fragilidades estruturais do modelo proposto pelo SAFiel, especialmente no que tange aos aspectos financeiro e jurídico. O conselheiro expressou preocupação com a falta de dados substanciais que comprovem a capacidade do grupo em angariar o montante de R$ 1,6 bilhão, valor prometido para o saneamento das dívidas corintianas.

Ele questionou a validade das projeções apresentadas, que, segundo ele, carecem de embasamento concreto. A ausência de pesquisas que respaldem a viabilidade dessa captação é um ponto de alerta levantado pelo membro do CORI. Além disso, a conformidade legal do projeto é posta em xeque.

"Falam em pesquisas que mostram a viabilidade dessa captação, mas não apresentaram essas pesquisas. E, juridicamente, a pessoa jurídica criada por eles não cumpre os requisitos formais exigidos pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para captar recursos. É um projeto um pouco capenga, com algumas questões que efetivamente não param de pé", declarou Pedro, classificando a iniciativa como deficiente.

Ainda no campo jurídico, o conselheiro trouxe à tona a questão do poder de voto dentro do direito societário, um ponto crucial para a governança de uma SAF. Ele alertou que a lei permite que a influência do acionista seja diretamente proporcional ao capital investido, o que pode levar a uma concentração de poder.

"Dentro do direito societário, o acionista vota de acordo com o capital que possui. Quem comprar ações de R$ 2 milhões terá muito mais peso do que quem investir R$ 200. Isso é da lei. E a lei ainda permite acordos de acionistas, que podem concentrar o poder, independentemente do estatuto", explicou, evidenciando um risco de desequilíbrio na tomada de decisões.

O Desgaste Político e as Acusações Indevidas

O conselheiro também manifestou seu desconforto com a retórica adotada por alguns representantes do SAFiel, que teriam se referido à "política suja do Parque São Jorge". Para Paulo Pedro, essa generalização é ofensiva e contribui para um desgaste desnecessário dentro do ambiente político do clube.

"Quando dizem que não querem fazer parte da ?política suja do Parque São Jorge?, isso me incomoda. Eu não sou sujo, nem admito ser chamado assim. Esse tipo de postura gera desgaste desnecessário", criticou, defendendo a integridade dos membros internos.

Governança, Transparência e o Perigo das Soluções Impositivas

Paulo Pedro ressaltou que a busca por melhores práticas de governança e transparência não é uma inovação na vida política do Corinthians . Ele lembrou que seu próprio grupo, o Movimento Corinthians Grande, tem defendido reformas internas nesse sentido há anos, independentemente de vitórias eleitorais.

"Desde 2018 defendemos governança e transparência, mesmo sem vencer eleições. Mas não criamos um movimento externo para conquistar o poder no ?fórceps?. Essa ideia de se colocar como única salvação do Corinthians não termina bem", afirmou, diferenciando a abordagem de seu grupo.

O conselheiro concluiu sua análise com uma advertência, utilizando um exemplo recente da história do clube para ilustrar os perigos de se impor um projeto como a única alternativa viável. A eleição e posterior impeachment do ex-presidente Augusto Melo, que assumiu o comando do Corinthians em janeiro de 2024 e foi afastado em agosto do mesmo ano, serve como um lembrete vívido.

"A eleição do último presidente, que acabou impichado, é prova disso. Quando se tenta impor um projeto como a única saída, o resultado raramente é positivo", finalizou Paulo Pedro, reforçando a necessidade de cautela e diálogo construtivo nas propostas de transformação do clube.