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Corinthians: Auditoria Secreta Revela Desvio de Materiais Nike e Aponta Para Vice-Presidente
Por Redação FuTimão em 17/11/2025 14:42
Uma minuciosa auditoria interna conduzida no Sport Club Corinthians Paulista desnudou um panorama preocupante de desmandos na administração dos materiais esportivos fornecidos pela Nike. O levantamento revelou uma série de falhas, que vão desde a ausência de controles básicos até a apropriação indevida e a comercialização clandestina de uniformes oficiais do clube.
O dossiê, de gravidade inquestionável, foi encaminhado não apenas ao presidente Osmar Stabile e ao Conselho Deliberativo, mas também à Polícia Civil, que já investiga o caso em um inquérito próprio. O documento aponta nominalmente o vice-presidente Armando Mendonça como figura central em diversos incidentes classificados como não conformes, lançando uma sombra sobre a cúpula diretiva do Alvinegro.
De acordo com o relatório, o Corinthians ultrapassou em quase 300% a cota anual de produtos estabelecida em contrato com a fornecedora. O volume de itens acumulados apenas entre 2024 e 2025 atingiu a cifra de R$ 23,7 milhões, um excedente de R$ 15,7 milhões em relação ao limite contratual de R$ 4 milhões por ano. Paradoxalmente, diversas modalidades esportivas do clube ainda padecem com a falta de uniformização adequada, com relatos de peças deterioradas, remendadas ou simplesmente inexistentes.
A discrepância entre o volume de materiais recebidos e a carência percebida nas categorias reflete um problema de gestão alarmante.
Revelações Chocantes: O Descontrole de Materiais Nike no Corinthians
A auditoria detalhou sete irregularidades de peso, que expõem a fragilidade dos processos internos. Entre elas, destacam-se o acúmulo de materiais obsoletos sem destinação apropriada, a ausência de um inventário há mais de quatro anos e notas fiscais de R$ 6,4 milhões que não foram registradas no sistema, configurando um sério risco fiscal para o clube. O documento também aponta para a distribuição desigual de uniformes, pedidos realizados sem qualquer planejamento, a retirada de materiais sem o devido processo de aprovação e solicitações feitas por indivíduos sem a devida autorização.
Os dois almoxarifados do clube, um no Parque São Jorge, que serve às categorias de base, futebol feminino e outros esportes, e outro no CT Joaquim Grava, responsável pelo elenco profissional masculino, foram classificados como desorganizados e operando com controles frágeis. Essa desordem se torna ainda mais incompreensível diante da vasta quantidade de itens recebidos.
Apenas em 2025, até 10 de outubro, a Nike enviou 41.963 produtos. Contudo, modalidades como os esportes aquáticos não receberam uniformes oficiais, e as categorias de base foram instruídas a "racionar material" antes da Copinha. Equipes sub-12 e sub-13, por exemplo, treinam com modelos de 2019 e disputam partidas com peças de 2021. Em contraste, o Corinthians desembolsou R$ 776 mil na compra de 13,5 mil itens licenciados para suprir departamentos como futsal e basquete, apesar de os uniformes da Nike não gerarem custos ao clube.
A ineficiência chegou a impactar o time principal. Nas semanas que antecederam o confronto contra o Fluminense, em 13 de setembro, constatou-se a insuficiência de camisas brancas para o uniforme número 1. Sem tempo hábil para reposição, o Corinthians solicitou ao adversário que ambos os times utilizassem o segundo uniforme, um pedido que foi atendido.
O Paradoxo da Abundância: Falhas Sistêmicas e o Impacto no Dia a Dia
A investigação da auditoria também abrangeu uma denúncia anônima sobre a comercialização ilegal de uniformes. O esquema, conforme o relatório, envolvia funcionários do clube que vendiam peças retiradas diretamente do estoque oficial. Um desses indivíduos foi flagrado vendendo camisas por valores entre R$ 150 e R$ 180, e admitiu sua participação no desvio, embora seu nome não tenha sido divulgado no documento.
O vice-presidente Armando Mendonça, encarregado da gestão dos materiais desde maio, emerge como protagonista em diversas ações consideradas incômodas ou irregulares. O relatório o aponta como o principal destinatário de camisas solicitadas sob o pretexto de "relacionamento da diretoria", geralmente em volumes de seis a onze peças por jogo. Ele também teria requisitado 19 camisas especiais, utilizadas no clássico contra o Palmeiras e adornadas com o patch da NFL. Ao tomar conhecimento de que o pedido havia sido detectado, Mendonça o cancelou, mas ainda assim retirou oito peças sem a formalização posterior.
Entre 6 de junho e 30 de outubro, o vice-presidente retirou um total de 131 itens, sem contabilizar as camisas em dias de jogo. Existem registros de retiradas diretas na rouparia, sem qualquer controle formal. A auditoria ainda menciona a transferência de materiais considerados insatisfatórios do CT para o Parque São Jorge, novamente sem a devida documentação fiscal.
Venda Clandestina e o Envolvimento do Vice-Presidente: Detalhes Alarmantes
Adicionalmente, o relatório descreve que Mendonça teria adotado um tom agressivo em interações com o diretor de Tecnologia, Marcelo Munhoes, responsável pela condução da auditoria. Em um dos episódios, o vice-presidente teria adentrado, sem convite, uma reunião com representantes da Nike, formulando perguntas e respondendo a elas, o que gerou "constrangimento e intimidação" entre os presentes.
O documento final da auditoria apresenta 17 recomendações cruciais para a reestruturação dos processos internos, o fortalecimento dos sistemas de controle e a correção das distorções na distribuição de materiais. Para os auditores, as falhas identificadas revelam um ambiente de baixa governança, propício a riscos que podem ter culminado em desvios e uso indevido do patrimônio do clube.
Até a publicação do relatório, a diretoria do Corinthians não havia se pronunciado oficialmente sobre as descobertas. Por sua vez, Armando Mendonça contestou veementemente os pontos apresentados. Ele argumenta que não possui responsabilidade sobre a política de distribuição de materiais, que sua atuação se limitou a auxiliar na reorganização de processos caóticos encontrados no início da gestão e que o relatório é "tendencioso" e "desconectado da verdade".
Mendonça defende que sempre solicitou melhorias no sistema de controle e que as retiradas de materiais realizadas por ele destinavam-se a ações de relacionamento. Ele também nega qualquer ameaça ou interferência na investigação. "Lamento profundamente informações desamparadas de material probatório", declarou, reiterando seu apoio a "melhorias, maior controle e apuração correta de irregularidades".
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