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Corinthians: Auditoria Revela Excesso de Gastos com Nike e Escassez na Base

Por Redação FuTimão em 15/11/2025 10:02

Uma auditoria interna solicitada pela presidência do Corinthians, focada no estoque de materiais da Nike, veio à tona e revelou um cenário de flagrante descontrole administrativo e financeiro. O clube, entre os anos de 2024 e 2025, extrapolou em R$ 15,7 milhões a cota contratual estabelecida com a fornecedora de material esportivo, superando significativamente o limite anual de R$ 4 milhões previsto em acordo.

Este dispêndio excessivo, contudo, contrasta drasticamente com a precariedade e a escassez de uniformes e equipamentos adequados para diversas modalidades e, de forma mais alarmante, para as categorias de base. O documento, ao qual o UOL teve acesso, aponta não apenas um desregramento na utilização dos materiais, mas também sérias inconsistências na gestão fiscal.

O valor exato de R$ 15.772.090,37, referente ao consumo excedente nos últimos dois anos, foi liberado pela Nike sem que houvesse a aplicação de multas. Além disso, a aquisição de 13.503 itens licenciados em 2025 gerou um custo adicional de R$ 776 mil, somando-se às demandas do departamento administrativo que, por sua vez, não implicaram em cobranças extras.

O Contraste Financeiro: Milhões em Excedente e Registros Obscuros

O volume de materiais recebidos em 2025 representa um aumento de 24% em comparação ao ano anterior, conforme trecho do "relatório de auditoria interna estoque de materiais esportivos Nike". O problema se agrava com a constatação de que R$ 6,4 milhões em notas fiscais, relativas a materiais da Nike e licenciados no período, não foram devidamente registrados no sistema de controle do clube. Essa omissão contábil e fiscal compromete a rastreabilidade e expõe o Corinthians a potenciais riscos tributários.

Questionado pela reportagem, o Corinthians confirmou a solicitação da auditoria interna pela presidência, mas optou por não tecer comentários sobre o seu conteúdo. Em nota enviada ao UOL, o clube mencionou que o presidente Osmar Stabile havia pedido um relatório abrangendo os almoxarifados do CT e do Parque São Jorge, e que foram identificadas "anomalias" especificamente no Parque São Jorge.

Apesar de o Timão ter recebido um total de 75.865 itens em dois anos, sendo 55.466 apenas em 2025 (incluindo fornecimento da Nike e compras de licenciados), o relatório sublinha uma distribuição flagrantemente desigual. Abaixo, detalhamos a alocação dos itens em 2025:

Destino Itens Recebidos (2025) % do Total PSJ (se aplicável) Observações
Total Geral (2025) 55.466 - Inclui fornecimento Nike e compras licenciadas.
Almoxarifado CT 15.233 - Futebol profissional masculino e diretoria. Falha de planejamento resultou na falta da camisa principal para jogo contra Fluminense.
Almoxarifado PSJ 26.730 -
   Futebol Feminino - 39%
   Esportes Terrestres - 31%
   Categorias de Base 4.255 16% Volume insuficiente para treinos, viagens e competições; atletas reutilizam uniformes antigos e precários.
   Departamento Aquático - Não Atendido

Desigualdade na Distribuição: Profissional Padece, Base Implora

Em 2025, 15.233 itens foram alocados ao almoxarifado do Centro de Treinamento, que atende ao futebol profissional masculino e à diretoria. Contudo, mesmo com essa alocação, uma falha de planejamento levou à ausência da camisa principal de jogo para o confronto contra o Fluminense, pelo Campeonato Brasileiro, em setembro. Já o almoxarifado do Parque São Jorge recebeu 26.730 produtos, com 39% destinados ao futebol feminino e 31% aos esportes terrestres. Outras modalidades, como o departamento aquático, ficaram sem atendimento.

O cenário mais preocupante é o das categorias de base, que receberam um volume significativamente menor: apenas 16% do total enviado ao PSJ, ou 4.255 itens. Essa quantidade foi insuficiente para suprir as demandas de treinos, viagens e competições, forçando os jovens atletas a reutilizarem uniformes antigos ou em condições precárias. A situação é tão crítica que, segundo o relatório, "O supervisor da categoria de base do Futsal tem realizado, por conta própria, a aquisição de meias e meiões destinados aos atletas sob sua responsabilidade, utilizando recursos financeiros pessoais, sem qualquer reembolso do clube."

O Depósito do Esquecimento: Almoxarifado em Condições Deploráveis

A auditoria também revelou as condições alarmantes do almoxarifado do Parque São Jorge. O local opera de forma precária, sem um inventário formal há mais de quatro anos, sendo a última listagem de produtos datada de setembro de 2021. Foram encontrados itens de 2014, e aproximadamente 28% dos produtos estão armazenados há mais de cinco anos. Este armazenamento prolongado resultou na deterioração de diversos materiais, como o descolamento de solados de calçados, além de evidências de mofo e acúmulo excessivo de poeira.

Diante desse cenário, a auditoria recomendou a implementação de inventários formais a cada quatro meses e o estabelecimento de parâmetros claros de estoque mínimo, máximo e de segurança. A sugestão de unificação do almoxarifado foi apresentada como uma medida crucial para aprimorar o controle e a gestão dos materiais.

A estrutura de gestão dos materiais centraliza a maior autoridade na figura de Armando Mendonça, vice-presidente do clube. Ele é o responsável por definir todos os processos, políticas operacionais e estratégias de uniformes, além de ser o aprovador de todas as solicitações de materiais, tanto para o CT quanto para o Parque São Jorge. Abaixo dele, na hierarquia, encontra-se Fabio Soares, diretor administrativo, encarregado da supervisão das operações dos almoxarifados.

Contrariando as descobertas, Armando Mendonça, na última terça-feira, notificou extrajudicialmente Marcelo Munhoes, diretor de TI do clube, e Reginaldo Nascimento, coordenador de sistemas ? ambos autores do relatório ?, questionando a validade da auditoria interna que expôs as falhas na gestão.

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