Corinthians: A Tática de Dorival para Blindar a Zaga Apesar dos Desfalques

O cenário atual do Corinthians é, no mínimo, intrigante. Enquanto a equipe navega por um período de calmaria nos resultados, com uma notável sequência sem derrotas, o técnico Dorival Júnior se vê constantemente obrigado a reinventar seu esquema tático. O uso do zagueiro Félix Torres na lateral direita, outrora uma das principais adaptações, é apenas um exemplo da criatividade exigida diante de uma crescente lista de ausências no elenco. Jogadores têm sido deslocados de suas posições habituais com uma frequência alarmante, mas, surpreendentemente, a estrutura defensiva do Timão resiste.

Apesar das adversidades impostas pelos desfalques, o clube alvinegro atingiu a marca de um mês sem conhecer o sabor da derrota. Esse período de invencibilidade compreende cinco confrontos, resultando em quatro vitórias e um único empate. Mais impressionante ainda é o registro de treze partidas sem sofrer gols sob a batuta de Dorival, um feito que sublinha a notável consistência defensiva alcançada pelo time em meio a um contexto de constantes remanejamentos.

O Mês de Tranquilidade e a Resiliência Alvinegra

A capacidade de se adaptar tem sido a tônica do trabalho de Dorival. No embate contra o Fluminense, por exemplo, o Corinthians pisou no gramado com uma formação defensiva bastante particular. O lateral-esquerdo Fabrizio Angileri integrou a linha de zaga ao lado dos defensores André Ramalho e Gustavo Henrique. Adiante, os laterais Matheuzinho e Matheus Bidu foram utilizados como alas no setor intermediário, enquanto Vitinho assumiu a função de meio-campista de criação.

A versatilidade dos atletas é um trunfo nesse esquema de improvisações. O próprio Vitinho , que já possui histórico como meia em sua carreira, comentou sobre sua disposição em campo:

? Com a experiência que eu tenho, vou tentar agregar em qualquer posição que estiver jogando, e o professor sabe disso. Eu estou disponível para poder estar atuando e ajudando a equipe da melhor maneira possível ?

declarou o jogador, evidenciando o espírito de equipe necessário para superar os obstáculos.

Para essa partida específica, o Corinthians enfrentava a ausência de cinco jogadores entregues ao departamento médico e um suspenso, sendo cinco deles atletas titulares. A situação se agravou no aquecimento, quando Rodrigo Garro sentiu a panturrilha direita e foi cortado, elevando o número de baixas para sete. Posteriormente, foi diagnosticada uma lesão muscular de grau 2. Durante o próprio confronto, Dorival ainda teve de lançar mão do lateral-esquerdo Hugo, que não atuava desde 3 de maio, para preencher o meio-campo.

A Engenharia Tática de Dorival: Soluções em Meio à Escassez

A necessidade de ajustes táticos não foi um evento isolado. No clássico contra o Palmeiras, antes da última pausa para a Data Fifa, Dorival escalou o meia Charles na lateral-direita. Essa decisão foi motivada pelas atuações aquém do esperado de Félix Torres, que vinha sendo improvisado na posição em diversas ocasiões. O lateral-direito de ofício, Matheuzinho , estava fora do dérbi devido a uma sobrecarga muscular na coxa direita, e o elenco não possui um substituto direto para a função, especialmente após o empréstimo de Leo Maná, que era o lateral reserva, ao Criciúma.

Foi justamente no Dérbi que Raniele sofreu uma lesão no músculo posterior da coxa esquerda. Ele vinha sendo uma das peças centrais na engrenagem defensiva do Corinthians , apesar de ser volante, atuando frequentemente como terceiro homem da zaga. A série de desfalques, em um elenco que já é considerado enxuto e que recebeu apenas um reforço nesta janela de transferências, figura como o principal desafio na gestão de Dorival.

O próprio treinador reflete sobre o panorama:

? Nós estamos convivendo com uma situação inusitada, com muitos problemas, procurando de todas as formas encontrar soluções dentro do nosso elenco ?

disse Dorival, que tem recorrido também a jovens talentos da base, reconhecendo publicamente a inevitabilidade das improvisações ao longo do restante da temporada.

O Pilar Defensivo: Números e Percepções Internas

A despeito de todas as contingências, o Corinthians tem mantido uma constância defensiva que merece destaque. Dos 26 jogos sob a direção de Dorival, a equipe não permitiu gols em 13 deles. Esse impressionante registro inclui as seis vitórias conquistadas na Copa do Brasil, onde o time não foi vazado em nenhuma partida.

A evolução do sistema defensivo é percebida internamente. Dorival avalia:

? Se era, naquele momento, um problema muito sério que a gente vinha atravessando, eu acho que nesse sentido nós encontramos um caminho ?

sobre a solidez defensiva alcançada. O zagueiro André Ramalho reforça essa percepção:

? Desde a chegada do Dorival, a gente vem conseguindo ser consistente defensivamente. Claro que tem uma ou outra exceção, um ou outro jogo que não vamos tão bem. São 13 jogos sem tomar gols. Isso mostra nossa estabilidade defensiva como um todo, com diferentes sistemas e jogadores ?

exaltou o defensor.

Abaixo, um resumo da performance defensiva do Corinthians sob o comando de Dorival:

Total de Jogos	Jogos Sem Sofrer Gols	Aproveitamento (Clean Sheets)
26	13	50%

O Dilema Ofensivo: A Busca por Equilíbrio no Ataque

Contudo, a notável organização defensiva contrasta com um desempenho ofensivo que ainda busca maior fluidez. No Campeonato Brasileiro, o Corinthians apresenta um saldo de gols negativo: 24 tentos marcados contra 28 sofridos, ao longo de 23 rodadas. Essa ineficácia no setor de ataque é, em grande parte, atribuída às constantes ausências de seus três principais jogadores de frente: Memphis Depay, Rodrigo Garro e Yuri Alberto, que enfrentaram lesões em diferentes momentos da temporada.

Atualmente, apenas o centroavante Yuri Alberto está disponível, mas ele retorna de uma cirurgia de hérnia inguinal, e seu ritmo de jogo ainda não permitiu que ele fosse titular nas duas partidas disputadas desde seu retorno. Gui Negão surgiu como uma alternativa promissora, contribuindo com quatro gols e uma assistência nas últimas sete apresentações. No entanto, o jovem atacante estará suspenso do próximo compromisso do Corinthians por ter recebido o terceiro cartão amarelo.

O Timão voltará a campo neste domingo, às 17h30 (horário de Brasília), para enfrentar o Sport, na Ilha do Retiro, em Recife, pela 24ª rodada do Brasileirão, buscando manter a solidez defensiva e, quem sabe, encontrar um novo fôlego para seu ataque.