Audiência do Estatuto do Corinthians: Ética, Esportes Amadores e Polêmicas Ignoradas

A etapa inicial da discussão pública sobre a reestruturação do estatuto do Sport Club Corinthians Paulista foi marcada por dois pontos de grande relevância: a exigência de formação jurídica para os membros de uma potencial Comissão de Ética e Integridade, e a inquietação crescente com a possível redução de investimentos destinados às modalidades amadoras e olímpicas do clube.

Apesar da magnitude dos temas em pauta, o evento registrou uma participação modesta, com menos de cinquenta indivíduos presentes. Entre os participantes, estavam diretores, conselheiros, associados, e representantes de torcidas organizadas e coletivos ligados ao Corinthians . Essa escassa presença não passou despercebida, tornando-se alvo de severas críticas, como apontado pelo conselheiro Caetano Blandini, membro do Conselho de Orientação (Cori), durante sua intervenção na plenária.

Baixa Participação e Tensões Políticas Marcam o Início

Mesmo com o número reduzido de presentes, doze participantes manifestaram suas ressalvas e apresentaram sugestões pertinentes aos primeiros três capítulos do anteprojeto de reforma estatutária. Uma exceção foi feita ao artigo 21, que trata da questão do voto do Fiel Torcedor, cuja análise ficou reservada para a próxima audiência. Entre os nomes que se pronunciaram, destacam-se Herói Vicente, atual diretor de Inovação, Vinicius Cascone, ex-secretário-geral e ex-diretor jurídico do clube, e Felipe Ezabella, que já foi candidato à presidência.

A reduzida afluência ao evento teve uma consequência notável: praticamente todos os pedidos de "parte", feitos após as exposições, foram prontamente atendidos pelo presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Júnior. Em um desses momentos, ocorreu um breve atrito entre Tuma e o conselheiro Jorge Kalil. Conhecidos como rivais políticos, ambos disputaram recentemente a eleição para a presidência do Conselho, pleito vencido por Romeu.

O Futuro da Comissão de Ética: Autonomia e Formação

A proposta de instituir uma nova configuração para a Comissão de Ética emergiu como um dos pontos mais debatidos na audiência. Houve críticas significativas à previsão de se contratar profissionais externos para compor o órgão, que, conforme o anteprojeto, desfrutaria de autonomia e independência. Da mesma forma, a condição de que os associados que integrassem a comissão possuíssem formação superior em Direito também gerou considerável contestação entre os presentes.

Esportes Amadores em Risco: Uma Questão Urgente

O encontro serviu igualmente como palco para questionamentos veementes acerca da potencial diminuição de investimentos nas modalidades amadoras e olímpicas do Corinthians . Recentemente, o presidente Osmar Stábile implementou a separação orçamentária entre o futebol e o clube social, uma medida que pode ter repercussões diretas e significativas em modalidades como o basquete e o futsal. Com essa alteração, essas áreas serão compelidas a buscar novas fontes de recursos para assegurar sua continuidade e desenvolvimento.

A decisão administrativa foi recebida com desaprovação por associados e representantes de coletivos, que clamaram por uma atenção especial a essas modalidades durante o processo de formulação do novo estatuto. A preocupação é que a reforma, em vez de fortalecer, possa fragilizar segmentos importantes da identidade poliesportiva do clube.

Transparência Sob Questionamento: A Polêmica da Não Transmissão

A ausência de transmissão oficial da audiência pública foi um dos pontos que mais atraiu críticas. Apesar de um pedido formal da presidência do Conselho Deliberativo, o presidente Osmar Stábile não autorizou a exibição do evento nos canais de comunicação do clube. A imprensa presente também foi impedida de realizar filmagens da sessão. Embora a reunião tenha sido gravada para fins de registro interno, o material não foi disponibilizado ao público, alimentando o descontentamento e a percepção de falta de transparência.

Durante o curso do debate, o conselheiro Vinicius Cascone informou ter protocolado um requerimento formal solicitando ao presidente que as próximas audiências sejam transmitidas. Em um momento de tensão, Romeu Tuma Júnior fez uma declaração contundente, sugerindo que conselheiros que publicamente defendem a transmissão das sessões estariam, nos bastidores, agindo para impedir que elas efetivamente ocorram. A próxima sessão está agendada para esta sexta-feira e ocorrerá na Neo Química Arena, visto que o Teatro Corinthians , localizado no Parque São Jorge, estará ocupado com outro evento.